"Bote Aê" é uma parceria dos músicos Gabriel Carvalho e Tangre Paranhos (in memorian) gravada pela banda Folha de Chá no álbum Aquela Mensagem (2006). O baterista Gabriel lembra que a canção foi escrita em 2005 a partir do espírito comunitário que caracteriza os ensaios de banda - momento em que os músicos sempre estão pedindo alguma coisa uns para os outros. "É uma canção que apesar de descontraída passa uma mensagem da realidade de milhões de brasileiros que vivem em dificuldades financeiras. Um recado que permanece bem atual, pois, desde que foi gravada, o quadro econômico, político e financeiro do país se agravou", reflete Gabriel.
Quando "Bote Aê" foi lançada pela Folha de Chá a sua levada reggae do pelô conquistou boa execução nas rádios locais, fazendo com que se tornasse o grande sucesso da carreira da banda. Os autores chegaram a ser procurados pelo cantor Beto Jamaica para que autorizassem uma regravação com o grupo Chinelada. (A nossa equipe não conseguiu localizar esta versão, se você tem acesso a ela entre em contato conosco). "Bote Aê" também ganhou uma versão em espanhol da própria Folha de Chá - um incentivo pessoal de Francisco Horne, baixista do grupo, que é argentino.
Em dezembro de 2016, Tangre Paranhos, tecladista da Folha de Chá e parceiro de Gabriel em "Bote Aê", veio a falecer, deixando no grupo muitas saudades e canções. "Faz parte dos meus planos futuros gravar as outras músicas que fizemos em parceria. Muitas delas ainda se encontram inéditas", revela Gabriel.
Corria o ano de 1973, quando em uma participação em programa da Rádio Tupi o cantor e compositor Odair José ouviu o locutor ler um texto com as principais reivindicações das trabalhadoras domésticas; a lauda descrevia as dificuldades e preconceitos enfrentados no cotidiano desta classe trabalhista.
Conforme relata Paulo César Araújo, em seu livro "Eu Não Sou Cachorro Não", Odair achou o texto interessante e perguntou ao locutor Luiz Aguiar se poderia usar aquela temática nos versos de uma canção. O resultado foi "Deixa essa vergonha de lado", faixa que abre o seu quart disco, lançado em 1973. Além do estigma de subtrabalho que envolve as domésticas, a canção retrata também a barreira social que impedia as domésticas de namorararem um rapaz de classe média.
A letra da canção ousa uma compreensão sociológica da realidade brasileira, a partir de uma perspectiva que compreende a realidade da empregada doméstica, pois visualiza o apartheid presente na maioria das construções brasileiras: o cômodo diminuto reservado às empregadas domésticas, bem como os espaços restritos de circulação, como a "área de serviço"/ "elevador de serviço". Anos depois em entrevista a Rádio Globo (transcrita do livro), Odair atesta o caráter reflexivo da canção:
“Eu me mudei para o Rio de Janeiro por volta de 1966. E chegando aqui dormi em banco de praça, dormi debaixo de marquises, dormi na praia e depois fui morar em quartos de fundos. E ao conviver com essas dificuldades todas eu aprendi a gostar das pessoas que também dormem em quartos de fundos. Foi quando eu fiz a canção Deixa essa vergonha de lado, que conta a história da pessoa que convive com a família, mas não é da família, ou seja, a empregada doméstica, aquela secretária de casa que serve para dar banho nas crianças, serve para levar o filho à escola, serve para passar roupa, serve para fazer a comida, mas não serve para casar com os filhos da gente. E isso é uma coisa que sempre me tocou muito”, afirma Odair.
Em consequência da repercussão da canção, Odair José se tornou o principal porta-voz das domésticas no campo musical, tendo empenhado-se inclusive para a criação do Dia Nacional da Empregada Doméstica, comemorado a cada primeiro sábado de Outubro.
Berimbau é uma canção escrita em 2007 pela cantora Aline Reis durante a sua passagem pela Faculdade de Sociologia e Política, onde se formou. “Sempre debatíamos muitos temas lá e a música surgiu no violão como fruto desses debates sobre os inúmeros problemas do Brasil”, explica Aline.
O eu lírico da canção provoca e desafia o ouvinte em versos que afirmam elementos da cultura brasileira como a capoeira e o próprio berimbau; símbolos que traduzem também a postura musical de Aline: em protesto em Washington ela interpreta a música em frente à Casa Branca.
“Na música evoco a capoeira como grito de liberdade, uma auto-defesa para enfrentar o inimigo. É a arma do trabalhador na condição de escravo dentro do sistema capitalista, fragilizado diante deste contexto de reformas sociais”, reflete Aline. Berimbau está no primeiro disco da cantora, lançado virtualmente no ano de 2016.
Transgressora desde a mais tenra infância, a cantora e compositora Rita Lee coleciona gestos e letras de libertação. Uma destas está na canção João Ninguém, gravada no disco Lança Perfume em 1980.
A letra fala de um João Ninguém que é "dono da Aldeia", com ele "quem bobeou, dançou". No seu livro "Rita Lee: Uma Autobiografia" a cantora revela que o seu muso-inspirador da canção foi o então general-presidente João Figueredo.
"Um cara pé de chinelo que saiu do estábulo e virou rei, mas o cheiro do estábulo nunca saiu dele, aliás, uma carapuça que cabe perfeitamente em nossos políticos de hoje", afirma Rita.
Hoje, dia 17 de junho de 2016, o cantor e compositor Rodrigo Pitta lança o single Passeata, segunda amostra do álbum PQP que se encontra em fase de gravação. A faixa dialoga com o turbilhão político vivido pelo país, refletindo sobre as vozes sociais presente nas ruas e sobre a ausência de diálogo entre elas. "Quem vai pra rua está carregando consigo muitas crenças pessoais, se aproveitando do momento para colocar pra fora preconceitos, vontades e hipocrisias. É isso que assusta: ver um país como o nosso vivendo um retrocesso moral e cívico, consagrando racistas, fascistas e homofóbicos", declarou em entrevista ao blog Outro Indie.