sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Regreen - ZecaCuryDamm

*texto escrito por Ricardo Cury,  baterista e contador de causos do rock baiano

Era primavera de 2005. Eu e Damm tínhamos gravado um disco com músicas dos outros para deixar nos bares de Salvador. Todas as músicas no cajon, voz e violão. Jeff Buckley, Tears for Fears, Beatles, Sade, Secos e Molhados... Empolgado com a sonoridade, Damm sugeriu que voltássemos pro estúdio, porém com músicas próprias, e gravássemos um outro disco, 100% autoral. No processo de composição, ele chegava lá em casa com a melodia e a ideia pra eu encaixar outras palavras. 

- A gente tinha que colocar um reggae nesse disco – disse ele, em uma dessas vezes, Jah com um reggae na mente, para juntos colocarmos a letra.
Não conseguimos. Diferentemente das outras, que saiam rapidamente, essa travou. Foram dias tentando diversos temas e nenhum encaixava no som de Jah.

No meio disso tudo, fui ao Pelourinho para um evento e, Jah indo embora, parei na janela do Bar do Reggae, onde o Dj estava tocando Bob Marley com alguns rastafáris dançando no centro da pista. Todos de olhos fechados, cantando com perfeição a música Concrete Jungle. Não sei se sabiam falar inglês, se entendiam o que cantavam, talvez sim, talvez não, mas o que pensei naquele momento era que isso era o menos importante.
                                  Bar do Reggae no Pelourinho
Na manhã seguinte, na sincronia de coisas que naquela época acontecia incessantemente, Damm chegou pra gente tentar, mais uma vez, colocar uma letra no reggae maldito, mas, antes de começarmos, quis me mostrar uma banda que tinha acabado de conhecer. O som começou.

- Não estou entendendo nada do que esse cara tá cantando, é aramaico? – perguntei.

Só depois de ler a letra que vi que era em português. A banda era Ponto de Equilíbrio. Bateu na hora:

– Porra de letra. Vamos gravar o solfejo, sem letra, sem mensagem, só a melodia.

Depois de gravada, passamos quase o dia inteiro tirando sílaba por sílaba para colocar no encarte do disco, como se fosse uma letra. E para temperar, a música ainda contou com a luxuosa participação de Alex Porchat nos trompetes caribenhos.                             




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