quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Singles de 2017

Como toda lista, essa é uma amostragem que se limita a produção musical de 2017 que este redator ouviu durante o ano.Ela pretende dialogar com outros recortes semelhantes e assim contribuir para a promoção e o consumo da música brasileira. Nem todas as faixas da lista foram necessariamente trabalhadas pelos artistas como single, considerando que este é um formato em constante mutação. 
Falemos de 2017: o permanente estado de crise moral e ética vivido pelo país durante este ano fez dele um longo episódio de aventuras anti-democráticas em que políticos, juristas, mídia, artistas e cidadãos se movimentaram muito; mas a todo tempo pareciam estar perdidos entre as propostas de avanços e retrocesso anunciadas. Um estado de delírio vivido nas cidades brasileiras que se encontra refletido também nas músicas produzidas ao longo do ano.  

Melhores Quanto ao Carnaval - Escambau
Em "Melhores Quanto ao Carnaval" a banda curitibana Escambau entrega ao cidadão brasileiro uma pérola pop-irônico-reflexiva, uma faixa envolvida na missão de despertá-lo do estado de letargia. É um rock certeiro: mira na linguagem frenética para puder dar um sacode na hipocrisia nossa de cada dia. A faixa foi o primeiro single do álbum Sopa de Cabeça de Bagre em que a banda reflete outros temas caros à atual situação brasileira.

Calma – Maglore
Escrita pelo baixista Lucas Oliveira durante os ensaios de pré-produção do disco Todas As Bandeiras (2017), "Calma" é uma carta sincera de amigo para amigo - daquelas que hoje em dia só estão sendo encontradas mesmo em formato de canção. Segundo conta o próprio Lucas, ela foi inspirada em um momento de superação do vocalista Teago. A pureza da faixa amplia o alcance de sua mensagem: lembra o ouvinte de que é possível enfrentar a realidade de maneira positiva, sem necessariamente ter de soar piegas ou alienado. Se 2017 foi um ano de superações, concerteza ele careceu também de muita calma em suas horas.

Seu Lugar - Irmão Carlos

Nos debates sociais que marcaram o ano de 2017, a discussão sobre o lugar de fala se fez cada vez mais presente. O empoderamento feminino, a luta contra à discriminação racial e à homofobia foram algumas das pautas enriquecidas por esta perspectiva. E na música brasileira também tivemos bons exemplos de sucesso ao reunir identidade, discurso e arte. Pincelamos aqui "Seu Lugar" - single do primeiro álbum solo do multi-artista e produtor baiano Irmão Carlos. Na letra autobiográfica o cantor revisita as barreiras sociais que enfrentou (e enfrenta) para  conquistar o seu lugar na cena musical, contesta a 'meritocracia' de seu interlocutor e afirma de boca cheia "eu tô no pódio com você!".  A faixa marca um novo passo na carreira musical de Irmão Carlos em disco homônimo que apresenta elementos de sua formação funk e rock’n roll.

Banho de Folhas - Luedji Luna
Uma das grandes revelações da música brasileira em 2017, Luedji Luna lançou o disco Um Corpo no Mundo como o desabrochar de uma grande artista: seu canto tem maturidade, diversidade, universalidade.Em "Banho de Folhas" encontramos uma canção do ar puro que ainda pode ser encontrado no cotidiano; da força de uma tradição que será devidamente legada e atualizada sem folclore ou estereótipo, uma música de poder real.  

As Caravanas - Chico Buarque
Às vezes não nos damos conta da grandiosidade que é viver no tempo de artistas como Chico Buarque, da riqueza que a sua experiência e talento podem conferir a realidade. Em "As Caravanas", Chico  encarna a sua faceta cronista para dissecar a hipocrisia da discriminação social brasileira. Faz bom uso da ironia atribuindo ao Sol a culpa pela presença dos suburbanos nas praias da zona Sul do Rio de Janeiro. Afinal, ainda não nos reconhecemos como habitantes de um país tropical e muito ainda se gasta com palavreado sobre nossa propensão à preguiça, à bebedeira, blá, blá, blá... aqui temos uma canção poderosa sobre o nosso eugenismo enrustido: prerrogativa que ainda é utilizada para julgar o negro, para marginalizá-lo, para excluí-lo.E por que não dizer, para violentá-lo?. “Filha do medo, a raiva é mãe da covardia”. 

Invisível – Baiana System
Com o recheio luminoso do canto das crianças (filhos do Curumin), a Baiana System utiliza de sua alquimia musical para emitir uma alerta sobre a perda da compaixão nas relações humanas. Uma faixa de batida contagiante, uma melodia pra cantar junto e um clipe belo/reflexivo. 

Atrás de Você – Otto
O galego acerta em cheio mais uma vez ao cantar o Amor. O disco Ottomatopeia é repleto de boas canções, "Atrás de Você" se destaca pela coesão do arranjo: um groove percussivo conduzido por um riff de guitarra fuzz. No meio dessa amálgama, o pernambucano passeia em interpretação convincente: canta o amor que, ao mesmo tempo que machuca, é também capaz de curar. 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Maria Joana - Erasmo Carlos

* depoimento de Erasmo Carlos concedido e publicado no livro "Contos do Rock - História dos Bastidores do Rock Brasileiro Contadas por quem estava lá" de Daniel Ferro

"Com a contracultura dos anos 60, aquela coisa maravilhosa, o mundo dominado pela filosofia hippie do paz e amor, faça amor, não faça guerra, logicamente aquilo gerou muitos modismos, e um dos modismos principais foi a maconha, a descoberta das drogas. E aquela coisa toda foi logicamente imediatamente adotada pelos intelectuais e pelos artistasdo mundo inteiro, inclusive por mim. 
E aí vim pro Brasil com aquela coisa na cabeça de marijuana porque eu fui numa boate em Israel, em Tel Aviv, e quando entrei tinha um som louco, um calypso maravilhoso e o cara falava 'i like marijuana, i like marijuana', e eu disse 'vou fazer uma música chamada Maria Joana'. Fiz essa música e logicamente a censura implicou. Eu fiquei numa sinuca: 'que eu vou fazer, que eu vou falar lá com os hômi?' Aí lembrei que eu tinha lido no jornal que meu amigo Nelson Motta, que era casado com a Mônica na época, esse casal ia ter uma filha e o nome dela seria Joana. Liguei pro Nelson e disse 'vou dizer que fiz a música pra sua filha'. , e o Nelson falou 'mas, Erasmo, a minha filha não se chama Maria Joana, ela se chama Joana' e eu digo 'cara, vou dizer que ela ia se chamar Maria Joana, depois vocês desistiram, tiraram o Maria, e eu já tinha feito a música'. 
Mas não colou. Não colou não. Aí a censura me proibiu de cantar nos shows e a execução em rádio. Só foi o possível o lançamento no disco. Então eu nunca tinha cantado essa música até agora (no show Meus Lados B)"

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Bahia Jamaica - Jorge Alfredo/Chico Evangelista


*Texto escrito pelo compositor Jorge Alfredo Guimarães

Eu estava deitado na cama de um quarto de hotel, exausto, já era tarde da noite, tinha acabado de sair do banho, quando me surgiram esses versos: “quem falou tem a cabeça branca de muitas canções que falam do mar da Bahia; tambor que bate aqui é o tambor que bate lá... Bahia, Jamaica – um ponto de encontro entre eu e você.” Eu me lembrava do que dissera Dorival Caymmi numa entrevista, e os versos vieram assim inteiros... Eu peguei uma agenda, que levava comigo, e escrevi pra não esquecer. Mas, não foi o suficiente para eu relaxar e pegar no sono. Então, peguei o interfone e liguei pra Chiquinho, que estava no quarto ao lado. Felizmente, ele atendeu. Eu disse; “- Evans, que bom que você ainda está acordado! Chegue mais! Parece que consegui fazer a letra da música que vai dar nome ao nosso disco!” Chico Evangelista em menos de 5 minutos já estava buzinando na porta, trazendo o Ovation numa mão e um baseado já apertado na outra. Antes que o dia amanhecesse a música já estava pronta e gravada num minúsculo gravadorzinho que eu tinha ganho de presente de Oliveira Bastos, quando trabalhei no Diário de São Paulo. 
Foto: Nicia Guerriero

O ano era de 1980. A gente estava no Rio de Janeiro. Viemos nos apresentar no alto da Urca, inaugurando o projeto de Nelson Mota, o Noites Cariocas. Viemos de São Paulo com a banda completa; Dino Vicente, nos teclados, Gigante Man, na bateria, Toni Costa, na guitarra, Cid Campos, no baixo, Cezinha, na percussão. Teve canja de Pepeu Gomes e tudo o mais... Sucesso absoluto de público nas duas noites, mas, para nossa surpresa, não tinha cachê nenhum para a gente. Foi aquele vexame! Eu perguntava incrédulo; “- Pô, mas pelo menos tem que ter o cachê da banda!”. Mas não adiantava... Pra compensar, no dia seguinte tínhamos agendado um compromisso com um empresário carioca, que nos chegou através da Gravadora Copacabana, um show coletivo numa dessas Feiras de Animais, Agropecuária, sei lá, na Grande Rio, que era só pra mim e Chiquinho, a gente cantaria 3 ou 4 músicas de violão no final do show, sem banda. O que a gente quisesse, só não podia faltar o Rasta Pé. Pagamento em dinheiro vivo, sem recibo, nada... Então, lá fomos eu e Chiquinho cantar nesse evento pra pagar os cachês dos músicos do show dos Noites Cariocas. A Banda Axé não podia compartilhar com a gente desse “calote”. 
Foto: Nicia Guerriero

Foi na volta dessa mini apresentação, ao ar livre, para um público de mais de dez mil pessoas, que vim conversando com Chiquinho, no carro que nos trazia de volta pro Hotel, da minha vontade de fazer uma música que sintetizasse o nosso encontro musical. A gente já tinha estúdio agendado em São Paulo pra gravar o LP da “dupla. Porque há um ano atrás, no Festival da Tupi, no final de 1979, o “Reggae da Independência” agradou, mas, causou muito mais estranheza do que a gente imaginava. Meses depois, em abril de 1980, o “Rasta Pé” atingiu em cheio o grande público, foi classificada pra grande final do Maracanãzinho e estourou nas rádios. E o pessoal da gravadora queria gravar um Lp antes da finalíssima do Festival MPB Shell, da Rede Globo. E eu comentava com Chiquinho a minha surpresa sobre o convite de Paulinho Boca de Cantor, pra que ele tocasse violão no “Vestido de Prata”. E Chiquinho me dizia: “- Jorginho, ele quer aquele swingue... é samba, é reggae... todos piram com sua música; parece samba, mas não é...” Quando decidimos pelo nome do nosso LP, prevaleceu o meu argumento de que “Bahia Jamaica” contemplava muito mais o que fazíamos. Samba e reggae eram apenas dois ritmos, pra mim. E a gente sempre misturava tudo, tinha também blues, frevo, até guarânia... Só tinha um problema, eu dizia; A Bahia é um estado e a Jamaica, um país, mas a kaya é uma só! E Chiquinho morria de dar risada.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Arranca-Rabo - Pedro Dum

Arranca-Rabo é uma canção autobiográfica de Pedro Dum gravada junto a banda Encomenda. Em sua levada balançada de funk-rock, a faixa amplia um tema quase que universal: os pequenos desentendimentos de rotina que se tornam uma tempestade nos relacionamentos em crise. "Ela surgiu a partir de uma batida do violão de João Bosco, ainda nos tempos pré-internet: ouvindo e tentando reproduzir no instrumento. Até a ideia dela de soar uma crônica musical veio dele. Ela me permitiu realizar em música o estado de catarse", explica Pedro. 
A composição foi apresentada à banda pela primeira vez em estúdio, inclusive com a presença da destinatária. O curioso foi que a moça gostou da música de primeira, a ponto de perguntar a Pedro sobre a autoria. Ele tergiversou e deu os créditos ao percussionista. "Eu já me sentia ali chegando com elementos novos e ecléticos, com uma canção que não tinha o apelo rock'n roll - que era a linguagem mais fluente do grupo e ainda mais essa", sorri Pedro.   
Em 2011, Arranca-Rabo foi escolhida a melhor canção da edição do Festival de Música da Educadora. O grupo inicialmente havia eleito Solar para a disputa, mas pela insistência da banda e do produtor Irmão Carlos gravaram e inscreveram também Arranca-Rabo. "Ele viu que no ano passado a gente tinha disputado com uma música finalista, e então resolveu apostar. Ele dizia:'a gente divide, bota aí pra pagar a perder de vista, mas tem que gravar'", conta Pedro.  Pois deu certo: a irônica letra de Arranca-Rabo ganhou o arranjo inventivo da Encomenda e conquistou a empatia musical dos júris.

domingo, 3 de dezembro de 2017

O Que Eu Quero Levar - Lívia Mattos/ Loic Cordeone

"O que eu quero levar" é uma parceria da sanfoneira Lívia Mattos com o acordeonista franco-português Loic Cordeone. Lívia lembra que a canção nasceu no período em que residiu em Paris, o conheceu o Loic. "Ele me mostrou sons do Haiti, referências que achava que tinham a ver com o meu som. Eu pirei no kompa haitiano. Ele pegou a sanfona e começou a fazer uma levada interessante. No mesmo dia me veio a melodia e a ideia da letra", conta Lívia. 
A faixa foi lançada no álbum Vinha da Ida (2017) - o primeiro trabalho solo de Lívia Mattos - e conta com a participação especial do acordeonista Toninho Ferragutti. O resultado é um balanço contagiante conduzido por uma letra direta e libertária. "Acabou que ela transversalizou com as minhas referências, o meu modo de tocar a levada; misturou com o som dos terreiros e deu no que deu", comenta Lívia. 

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A Seu Respeito - Lucas Chutes

A Seu Respeito é uma canção de Lucas Chutes lançada ontem (28) como segundo single de sua carreira solo. O cantor lembra de tê-la escrito a partir da observação de reações comuns ao contato interpressoal. "Há uma fase de luto em todo contato.E a música tenta ser útil ('sei que é uma intenção bem romântica') no processo de fazer o ouvinte perceber que seu sofrimento é sempre seu, imensurável", reflete Lucas. 

Em seu formato cadenciado, A Seu Respeito é uma canção que convida a uma experiência. "As notas iniciais e a letra que acompanharam apareceram juntas. Daí ele foi se desenhando a partir dos arranjos", explica Lucas. A faixa contou com a produção de Augusto Pereira e Bruno Philippse que contribuíram para o alquímico resultado sonoro. A Seu Respeito foi lançada também como clipe sob a direção e realização de Dhara Luna e Emanuelle Farezin. 

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

O Silêncio - Ayam Ubrais Barco

"O Silêncio" é uma canção de Ayam Ubrais que nasceu primeiro como poema que está no seu livro O Caos Agradecido. "Ela foi escrita a partir da minha investigação em sonhos. Eu regressava a uma aldeia indígena dentro de mim e me encontrava lá. Encontrava o silêncio necessário para ouvir meu coração pela primeira vez", revela o cantor. 

Foi depois de contar essa história para os amigos que Ayam colheu mais um insight onírico: sonhou com a melodia. "Eu acordei e ainda pelejei por uns dias pra decifrar como libertar o poema em música", explica. Essa não foi a primeira vez que ele produziu arte a partir das suas investigações do inconsciente. Outras canções e também poemas, pinturas e até relacionamentos vividos partiram dos sonhos. "Eles são o terreno da espiritualidade pra mim. São xamanisticamente concebidos com os 'pés no chão'. Não entendo essas coisas governadas desde a estratosfera ou algum reino invisível", explica Ayam. 


Como música "O Silêncio" saiu no disco ¡Partir O Mar Em Banda! (2016) e também ganhou dimensão audiovisual em clipe dirigido pela dupla Edson Bastos e Henrique Filho. A película amplia o simbolismo da letra e traz como locação um dos maiores depósitos de cacau da região de Ipiaú, na Bahia. Durante as filmagens a equipe chegou a receber visita da polícia e um cesto com aperitivos ofertado por um vizinho.


terça-feira, 21 de novembro de 2017

Se Vestir Despindo - Fábio Haendel

Se Vestir Despindo é uma música do cantador Fábio Haendel. Ele lembra que a composição nasceu no verão de 2008, logo depois de assistir a um documentário sobre moda. "Quando você se veste você se revela: seus gostos, idéias e ideais. Eu quis tratar em música sobre essas diferentes peles que possuímos", explica o compositor. 
A música ganhou sua primeira gravação em arranjo para voz e violão naquele mesmo ano com o lançamento de Dono do Tempo - primeiro trabalho de Fábio. Em 2015, Se Vestir Despindo ganharia uma nova versão com banda para o álbum Nuvens. Neste arranjo definitivo destaque para o piano honky tonk de Estevam Dantas que acompanha a melodia vocal conferindo-lhe o devido tom de liberdade.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Felicidade - Gabriel Moura/ Seu Jorge/ Leandro Fab/ Pretinho da Serrinha

Antes de se tornar um dos grandes sucessos da música brasileira no ano de 2015, a canção "Felicidade" nascia em um quarto de hotel com um destinatário certo para interpretá-la: 
"Eu lembro que estávamos trabalhando na música que apresentaríamos no dia seguinte à Glória Perez - aquela que viria a ser o tema da abertura de Salve Jorge (Alma de Guerreiro). Alguém então lembrou que nessa reunião iríamos encontrar também o Caetano e que ele estava gravando um disco novo. Pintou a ideia de fazermos uma música pra mostrar pra ele, foi a 'Felicidade': daquelas composições que saem rápido, uma frase depois da outra. Quando terminamos nem acreditamos no resultado, foi emocionante", conta o músico Gabriel Moura que assina a faixa junto com Seu Jorge, Pretinho da Serrinha e Leandro Fab.
Na reunião a canção foi então apresentada a Caetano, que, apesar de ter gostado do resultado, decidiu por não gravá-la, pois o repertório e o conceito do seu próximo trabalho (Abraçaço) já se encontravam bem definidos. Ficou então a homenagem que a letra da música faz ao cantor baiano: "felicidade é colar no show do Caetano/cantar Odara até o dia raiar...". 
A primeira gravação de "Felicidade" seria do próprio Gabriel Moura no seu primeiro disco solo Karaokê Tupi (2013).  A faixa se destacou no álbum, mas ganhou dimensão nacional quando recebeu a interpretação de Seu Jorge no disco Músicas para Churrasco II (2015). A versão ficou entre as faixas mais executadas naquele ano, foi parar na trilha sonora da novela Totalmente Demais e até hoje recebe propostas de sincronização em publicidade. 
"É uma música que me remete a um painel de imagens de momentos em que as pessoas podem ser felizes juntas, correndo juntas, fazendo as coisas simples juntas, cozinhando juntas. Então pra mim é muito gratificante receber o retorno daqueles que curtem a canção e a colocam nos seus playlists para curtir os momentos felizes de suas vidas", agradece Gabriel.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Baile de Máscaras - Damm


"Baile de Máscaras" é uma canção de Damm escrita depois de participar da festa de 20 anos da MTV Brasileira. Tudo muito bom, tudo muito bem, só gente bacana reunida e o cantor acabou vivenciando uma experiência em que viu cair o disfarce do mainstream musical brasileiro: um cantor de grande renome do cenário, no auge de sua carreira, batendo boca na festa por nada. "Ela é uma mistura de situações que presenciei nessa festa e de uma reflexão pessoal que fiz a respeito de como a gente enquanto artista fica tentando se formatar para entrar no sistema. Ela fala dessa minha desistência em obter este tipo de reconhecimento. E acaba que antecipa também um pouco do momento que vivo hoje na música, atuando como songwritter, produtor, arranjador", explica Damm. 
                                                                  Festa de 20 anos da MTV Brasil 
"Baile de Máscaras" foi gravada no primeiro álbum solo de Damm que seria lançado pelo selo Som Livre Apresenta, mas que, por conta de uma redução de custos da gravadora, acabou sendo lançado de modo independente. A faixa foi produzida pelo premiado Alberto Vaz e se encaixa no conceito intimista do disco, em que Damm se reinventa artisticamente cantando temas reflexivos depois de sua passagem pelas bandas ZecaCuryDamm e Formidável Família Musical.
Depois de lançar o disco percorrendo o circuito musical independente do interior paulistano, Damm passou três anos no Rio de Janeiro trabalhando no estúdio do tecladista Carlos Trilha (ex-Legião Urbana). De lá acumulou experiência de produção musical para seguir para Londres onde já trama os próximos passos de mais um trabalho solo - ainda não sabe se cantando em inglês ou português.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Perfeição - Legião Urbana

Perfeição é uma canção da Legião Urbana gravada no disco O Descobrimento do Brasil (1993). Mesmo em seu formato inusitado – ausência de refrão e letra longa - ela foi escolhida como música de trabalho para promover o álbum. Em seu livro de memórias o guitarrista Dado Villa-Lobos relata que “Perfeição” foi escrita por Renato como uma espécie de manifesto político sobre os anos 1990. “A ideia era que o arranjo ficasse entre o rock e o rap, e que o Renato mais declamasse os versos do que propriamente cantasse”, escreve Dado.
Os versos faziam referência direta à grande decepção vivida pela sociedade brasileira com o governo Collor. Depois de ir às ruas exigir o fim da ditadura militar, em 1984, a população acabava de se decepcionar pela segunda vez na recém-conquistada democracia. Primeiro com José Sarney que saiu do cargo presidencial sem governabilidade, depois com Collor que renunciou antes de ter o mandato cassado por um processo de impeachment.
Ao final da canção a banda abre uma nova página no arranjo para cantar a esperança – ou o que poderia ter sobrado dela naquele momento: “Venha, meu coração está com pressa/ Quando a esperança está dispersa/ Só a verdade me liberta/ Chega de maldade e ilusão/ Venha, o amor tem sempre a porta aberta/ E vem chegando a primavera/ Nosso futuro recomeça:/ Venha, que o que vem é perfeição.”
“O nosso objetivo era mostrar que, longe dos noticiários, existia um Brasil genuíno, autêntico, composto de pessoas simples e honestas que tocavam a sua vida mesclando esforço, coragem e amor. Essa nossa perspectiva, um tanto romântica, buscou retratar um pouco o cotidiano desses brasileiros anônimos”, escreve Dado.
No estúdio, enquanto a faixa era mixada, a equipe técnica considerou que ela se parecia com “O Bêbado e o Equilibrista” - parceria de Aldir Blanc e João Bosco que se tornou um clássico da música popular brasileira. Mesmo sem concordar com as semelhanças, mas já se precavendo de possíveis acusações de plágio, o grupo resolveu creditar a música também a Aldir Blanc e João Bosco.“Perfeição” também ganhou um videoclipe dirigido pelo fótografo Flávio Colker. Na película os integrantes da banda aparecem em uma fazenda próximo a Niterói em um passeio bucólico.


quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Sons - Taro

Sons é uma composição da banda Taro com letra de Gabriel Tupy O guitarrista do grupo lembra que o nascimento da canção foi para ele uma experiência libertadora. "Estava em casa tocando a música e, viajando com a melodia, percebi que as notas e os sons emitidos pareciam transcender a matéria - quase como o divino. Foi aí que escrevi me colocando no lugar dos sons e isso me fez me sentir muito maior do que esperava", reflete Gabriel.
Sons é o primeiro single da banda que é formada por jovens conquistenses - o mais moço deles tem 17 anos. A faixa, lançada na semana passada, leva adiante a experiência terapêutica vivida por Gabriel e convida o ouvinte a mergulhar em uma atmosfera rica em texturas, dialogando com a linguagem em voga de ícones do rock psicodélico/experimental. A produção é assinada pelo experiente Daniel Drummond e marca uma estreia colorida na vida da Taro.

sábado, 28 de outubro de 2017

Para Todo Um - Neila Kadhí/ Fred Aquino

"Para Todo Um" é uma canção escrita em parceria por Neila Kadhí e Fred Aquino. Neila lembra que a composição surgiu há cerca de 8 anos quando recebeu a visita de Fred em momento oportuno. "Eu estava vivendo um momento de separação e ele também vivia uma situação particular nessa área da vida. Acabamos dialogando sobre relacionamentos amorosos, como às vezes os sujeitos envolvidos se encontram em momentos completamente diferentes, e levamos isso pra música", explica Neila. 
A parceria de Fred e Neila, que vem desde os tempos de escola, foi acionada para traduzir o que viviam naquele momento: "É uma canção sobre as afinidades, uma tentativa de entender o que leva a gente a se aproximar de alguém, bem como de entender que nessas relações a vontade de um nem sempre está de acordo com a vontade do outro", reflete Fred. 

A canção Para Todo Um foi gravada por Neila Kadhí em 2015. Logo após retornar de um período morando no exterior, ela voltou decidida a retomar as atividades musicais. Esse retorno foi marcado pelo envolvimento com o movimento musical Som das Binha - coletivo de mulheres musicistas que promovem repertório autoral  dentro circuito musical soteropolitano. "Eu cheguei no momento estruturante do Som das Binha e, busca algo interessante para apresentar, que reencontrei 'Para Todo Um'. Hoje ela é presença certa nas apresentações do grupo; é uma música que tem uma adesão bacana do público", conta Neila. 

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Samba é Sacerdócio - Gileno Félix/ Paulo Mutti


"Samba é Sacerdócio" é uma parceria do compositor Gileno Félix com o músico e produtor Paulo Mutti. A faixa acaba de ser lançada como o primeiro single do álbum solo da cantora baiana Aiace Félix e conta com a participação de Luiz Melodia, em um dos seus últimos registros. 
O samba teve nascimento há cerca de três anos atrás, quando Gileno - pai de Aiace, poeta e autor de sucessos  como "Me Abraça e Me Beija" - procurou por Paulo para uma primeira parceria: trazia no bolso da camisa versos a serem serem musicados. Animado com o convite, Paulo atendeu de pronto e desenhou samba nos versos em uma noite de trabalho. "Quando concluí pensei: 'nossa, isso ficaria lindo na voz de Luiz Melodia'. Eu ainda sequer o conhecia e percebi que tinha feito a música inspirado no cantar dele. Ele é pura classe e elegância na construção das suas frases melódicas", revela Mutti. 
E foi com esse lembrete que a canção foi apresentada a Aiace e acabou sendo escolhida para integrar o disco. “Achei linda e fiquei apaixonada pela música. Poucos meses depois eu e Paulo conhecemos Melodia por intermédio de meu pai e Ricardo Augusto, amigo em comum. Ele foi extremamente generoso e receptivo com a gente, com as músicas que mostramos. Fizemos o convite para que ele participasse e escolhemos gravar justamente a música composta para ele. Hoje é ainda mais forte escutá-lo cantando ‘eterno é o que não se sabe / o dia que chega ao fim”,  declarou a cantora ao portal Correio 24 horas. 
A faixa foi lançada com clipe em que Aiace e Luiz Melodia, no estúdio, interpretam em dueto os versos sobre o ofício do sambista, que é comparado a um jardineiro "que sabe plantar a flor / sabe as cores que ela tem/ pra fazer um samba bem do jeitinho do seu amor".

terça-feira, 24 de outubro de 2017

A Vida Me Chama Lá Fora - Duda Spínola/Marcos Guimarães

"A Vida Me Chama Lá Fora" é uma parceria de Duda Spínola e Marcos Guimarães. A canção foi escrita - provavelmente na estrada - quando os músicos ainda tocavam juntos na banda Adão Negro e acabou sendo a chave para que Duda abrisse as portas de sua carreira solo. "Estávamos gravando o álbum 'Mais Forte', que saiu em 2010, e no mesmo período resolvemos fazer um registro dessa composição meio que de brincadeira - já que ela entraria no disco do Adão. Foi nessa experiência que fiquei com vontade de gravar um álbum meu. O disco saiu em 2012 batizado com o nome da faixa e a gravação dela manteve a mesma pegada rock'n roll dessa primeira versão", explica Duda. 
Na mensagem direta de "A Vida Me Chama Lá Fora", os parceiros musicais refletem sobre o poder da palavra. "É uma inquietação que temos em comum. Muita gente confunde sinceridade com indelicadeza. A palavra é muito poderosa e o microfone acaba amplificando muito esse poder. As redes sociais também. Eu acho que devemos ser cuidadosos sempre, não 'pisar em ovos', mas usar esse poder para o bem.", reflete Duda.
A faixa ganhou também um videoclipe, em que Duda interpreta dois papéis: de um jovem executivo angustiado que resolve sair para curtir a noite soteropolitana e de si mesmo tocando na noite soteropolitana. A película é uma produção conjunta de Duda com o fotógrafo e videomaker Uanderson Brittes e Thyago Nascimento.

domingo, 22 de outubro de 2017

Apartamento 101 - Tertúlia Nalua

Apartamento 101 é uma canção escrita coletivamente pela banda Tertúlia na Lua. Ela surgiu antes mesmo da banda começar a ensaiar na referida morada de Cristhian, vocalista do grupo. "Na letra fiz uma uma reflexão sobre o próprio eu: 'onde encontrar?, como encontrar?'. Nos perguntamos se as pessoas fazem essas perguntas, até que ponto realizar o sonho é tão importante? O que nos motiva mesmo é a música, nossa necessidade diária de som e a interiorização que surge como resposta do nosso 'melhor Ser'", reflete Cristhian.
Tertúlia Nalua ( Thierry Sacramento, Christian Caffi e Jones Sacramento) posando no apartamento 101

A faixa é o primeiro single e a última faixa do próximo trabalho do grupo com previsão de lançamento para este mês de outubro. Na gravação destaque para a liberdade artística ofertada pela Tertúlia Nalua: frases melódicas de uma guitarra devidamente timbrada passeiam por toda a canção. O arranjo é marcado de interlúdios instrumentais, que fazem com que o Apartamento 101 se assemelhe a um recanto de muitas portas que podem levar o ouvinte a lugares diversos.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Um Prato de Comida - Alípio Argeu/ Bal Flores

"Um Prato de Comida" é uma parceria dos músicos Alípio Argeu e Bal Flores.  "Ela era só uma letra que com o tempo parecia que ia se perder. O pulo do gato para que viesse a ser gravada foi o encontro com Bal, guitarrista argentino. Ele foi o mentor da parte sonora dela, absorveu bem a letra. Sinto que foi como uma extensão de onde o meu horizonte musical não poderia chegar", explica Alípio. A faixa foi gravada e lançada em 2015 pela dupla, dando origem a parceria que hoje assinam como Alibal Conspiracy.  
Na letra de "Um Prato de Comida" Alípio trata do dilema da fome de maneira crua e realista. "É um misto de experiências pessoais (falta de grana) com inspirações diversas. Tem algo da ideia de Cícero de Roma de que já nascemos para morrer e também de um doc que assisti do Glauber Rocha, em que ele saía nas ruas perguntando as pessoas 'do que o povo brasileiro precisa'. Uma das respostas me marcou: 'é de um prato de feijão com arroz e carne seca", reflete Alípio.
A faixa apresenta também o exercício de liberdade artística defendido pela dupla: uma melodia cadenciada de rap é sobreposta por vozes que urram de dor e por guitarras saturadas de efeitos. O resultado é uma escuta preenchida por atmosfera sombria que confere densidade e urgência  à mensagem situação na letra.  A canção ganhou também videoclipe, em que os músicos aparecem em perfomance imersos em um cenário de abandono.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Mucuripe -Fagner/Belchior



Em 10 de junho de 1972, o cantor cearense Fagner lançava a primeira gravação de Mucuripe, canção escrita em parceria com o conterrâneo Belchior (in memorian). Ela saiu encartada na edição do jornal Pasquim como lado B do segundo volume da série Disco de Bolso (no lado A Caetano interpretava A Volta da Asa Branca de Luiz Gonzaga). 
Durante este ano, Fagner chegou a morar na casa da sua amiga Elis Regina. Por meio dela conheceu Ivan Lins, que foi convidado a tocar órgão e escrever o arranjo desta primeira gravação de "Mucuripe". A repercussão do lançamento foi curta, tendo funcionado apenas como pontapé inicial na carreira dos compositores cearenses. No mesmo ano, Mucuripe seria consagrada ao panteão das grandes canções brasileiras com a gravação da amiga Elis.

No livro, “No tom da canção cearense – Do rádio, e TV, dos lares e bares na era dos festivais (1963-1979)", do historiador Wagner Castro, Belchior conta que imaginou toda a situação da música, em que se via aconselhando a mulher de um marinheiro; "dizendo que ela deixasse receber todos os seus sofrimentos, todas as suas mágoas […] Então resolvi fazer uma música sobre isso; a questão do Mucuripe, do significado do nome e porque naquela altura Mucuripe era um local muito poético, com suas dunas […]" , afirmou Belchior. Além da gravação dos seus próprios compositores, "Mucuripe" já recebeu diversas versões, dentre elas a interpretação épica de Roberto Carlos e uma mais recente feita pela cantora Amelinha em disco-homenagem a Belchior.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Chula - Shuris Salomão

Chula é uma composição de Shuris Salomão gravada pela banda Os Jonsóns no EP Fubenga Extra Vagante (2014). O músico conta que a canção teve como inspiração a sua cachorra Bella (in memorian) , companheira da família por 8 anos. "Ela era um ser de hábitos livres, muito cheia de si, com um comportamento muito incomum para cachorros", explica Shuris. 
Foi a partir desse comportamento inusitado da cachorra que o músico escreveu uma letra ambígua que reflete também sobre a liberdade nos relacionamentos humanos. "Versa sobre esse lance de sair de casa, de ser livre e a contraposição, o outro lado, de quem não quer deixar isso acontecer. Ela traz uma proposta do tipo 'ei, troque sua liberdade total por uma condicional comigo'", reflete o Shuris. 
Chula é presença certa nos shows da banda Os Jonsóns e, em sua acertada dose de ironia, é uma boa representante do espírito livre emanado pela música do grupo. 

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Seu Amor (Xote em G Maior) - Victor de Almeida

Seu Amor (Xote em G Maior) é uma composição do músico Victor Almeida gravada pela banda Santos & Reis. Victor conta que ela foi inspirada nos ambientes de festa que vivenciou. "Ela retrata essa dinâmica das festas que vem desde Gonzagão fazendo forró num terreiro e hoje vai desembocar na megaestrutura de um show do Wesley Safadão. Ali está a mesma dinâmica: pessoas que saem de casa e a partir daquele encontro podem mudar o rumo de suas vidas", reflete Victor. 
A percepção sobre o habitat da folia transformou-se em canção e ganhou letra que reflete a experiência pessoal de Victor. "Dessas festas saem namoros, casamentos. Foi no meio dessa multidão que magicamente encontrei a minha namorada.Se eu tivesse ficado em casa naquele dia não teria conhecido ela, não teria vivido tudo isso que vivi. No meio dessa piração toda essa história fez mais sentido.", explica o cantor. 
"Seu Amor" foi lançada pela Santos & Reis no último dia 13, como um dos singles do primeiro EP a ser lançado pelo grupo. Musicalmente ela apresenta o encontro musical entre o rock e o xote feito pela banda de Itapetinga. 

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Ifé - André Dias


Ifé é uma composição do guitarrista André Dias gravada pela banda baiana ExoEsqueleto. O músico conta que a inspiração surgiu quando o baterista do grupo, Renato Almeida, contou com alegria a boa nova de sua paternidade."Ele nos disse que seria menino e que se chamaria Ifé. Em iorubá Ifé é Amor e também uma cidade da Nigéria considerada o berço das religiões dos Orixás. Assim que fiquei sabendo do significado do nome escolhido, resolvi homenagear o pequeno", conta André.
Nos shows da ExoEsqueleto a música costuma ser dedicada à família do baterista. A letra discorre sobre as etapas do amor, aqui entendido como o fruto da união de corpos/almas. "No primeiro verso me refiro a esse amor que dá origem a criança, já no segundo sobre o amor que cuidará do pimpolho já nascido. O refrão é sobre o susto inicial que imagino que deva fazer parte da descoberta de uma gravidez", reflete o guitarrista.
(Foto: Ana Paula Bispo)

Musicalmente, Ifé é um bom exemplo da fusão consciente entre elementos do rock e da música afro-brasileira feita pela banda Exoesqueleto. A busca da ancestralidade é o elemento que une e move os músicos. "A proposta da banda sempre foi mergulhar nesse universo: seja nas letras, na mescla de ritmos ou na indumentária mesmo. A chegada do percussionista Heverton Didoné foi a cereja do bolo", resume André.
(Foto: Ana Paula Bispo)