segunda-feira, 31 de julho de 2017

Ando Meio Desligado - Sérgio Dias/Rita Lee

Ando Meio Desligado é uma parceria de Rita Lee e Sérgio Dias. Ela foi escrita para a peça "O Planeta dos Mutantes" dirigida por Maria Esther e Zé Agripino. O curto período em que o espetáculo esteve em cartaz coincidiu com a realização da quarta  edição do Festival Internacional da Canção, o que levou Os Mutantes a inscrevê-la na competição. 
Segundo conta Carlos Calado no livro A Divina Comédia dos Mutantes, a música surgiu a partir de um trecho melódico que Sérgio mostrou ao grupo durante um ensaio no quarto. Logo ali ela ganharia uma linha de baixo inspirada em "Time Of The Season" do conjunto The Zombies. Da sensação de desligamento provocada pela música Rita escreveria a letra de duplo sentido: ora romântica, ora lisérgica.  
 O ineditismo de Ando Meio Desligado chegou a ser contestado na participação do Festival pelos compositores/irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, por conta dela já ter sido executada na peça. A direção do Festival achou por bem não acatar o protesto. O próprio grupo decidiu por -la do espetáculo e assim participou da seletiva, levando o 10º lugar entre os finalistas. A apresentação na final marca também a reaparição de Rita Lee com figurino de noiva, só que dessa vez com uma falsa barriga de grávida;
A canção foi gravada pelos Mutantes no disco A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970) e se tornaria um dos grandes sucessos da carreira do conjunto. Ela é a única parceria entre Rita e Sérgio dentro da discografia do grupo - ainda assim o suficiente para despertar a admiração de outros interpretes, como Ney Matogrosso que a gravou no disco Sujeito Estranho (1980) e Marisa Monte que fez a sua versão no álbum MM (1988).
Uma curiosidade: as congas que se ouve na primeira gravação de Ando Meio Desligado feita pelos Mutantes foram executadas pelo percussionista Naná Vasconcelos. Carlos Calado conta que o grupo conheceu Naná nos bastidores dos festivais e ficaram impressionados quando o assistiram tocar percussão com o queixo e as costas das mãos.

domingo, 30 de julho de 2017

Brisa - Manuel Bandeira/Paquito

Os versos de Brisa - poema de Manoel Bandeira - foram musicados pelo compositor Paquito, estabelecendo assim uma parceria póstuma. "Eu sempre me identifiquei com esse poema do Bandeira, gosto muito da expressão 'viver de brisa' que às vezes é até utilizada como uma recriminação. No poema ganha essa conotação positiva: viver de brisa é bacana, ter uma doce vida, preguiçosa, curtidora", explica Paquito. 
A primeira gravação de Brisa foi feita por Maria Bethânia no disco Âmbar (1996). Paquito lembra que ela foi escolhida dentre cinco canções enviadas para a cantora em uma fita cassete. "Essa música tem um significado muito grande pra mim: pela graça de ter uma canção gravada por Bethânia e por ser justamente uma música em sintonia com o aspecto de nordestinidade que ela representa na cultura brasileira", agradece o compositor. 

Uma curiosidade é que Brisa foi escrita sem o uso do violão, instrumento íntimo de Paquito. Ele cantarolou diretamente do livro, em uma leitura musical do poema. O compositor acredita que este processo foi o responsável por trazer à tona elementos nordestinos de sua musicalidade, aspectos notáveis no arranjo da gravação feito para o seu disco Falso Baiano (2002). "Essa é uma ancestralidade que me é muito cara, ela sai de mim sem que eu pense muito. A brisa é um vento leve, esse que nos sussura ao ouvido", reflete Paquito.
                                    Foto: Sora Maia
Na interpretação do próprio autor a canção se revela uma brisa bem receptiva, que se permite receber no baião uma citação de The Inner Light - canção de George Harrison lançada pelos Beatles, tocada apenas por músicos hindusFrequentador dos bons ares da praia do Porto da Barra, quando questionado se vive de brisa, Paquito sentencia: "Tem tudo haver comigo. Eu não vivo de brisa, eu quero viver de brisa. Agora enquanto eu puder sorvê-la, seguirei sorvendo".



sábado, 29 de julho de 2017

Ioiô - Mari Blue

Ioiô é uma canção da cantora e pianista Mari Blue. Na letra o movimento do brinquedo infantil é associado as idas e vindas de uma sedução amorosa. "É sobre um querer e não fazer por querer, uma situação que vivi. Cheguei a pensar que ela poderia se chamar 'Ping-Pong' também. Só depois de gravar foi que descobri que a palavra Ioiô tem origem nas Filipinas e significa 'volte aqui', aí achei que o título encaixou perfeito no ocorrido ", explica Mari.
                                    
                                    Foto: Leandra Benjamim
Ioiô está no primeiro disco da cantora (Fruto da Flor, 2017) e é a primeira composição de Mari escrita ao violão. Para a gravação ela retomou o íntimo piano para os últimos ajustes de harmonia e se jogou nas experimentações. A música abre com dois timbres bem distintos acompanhando a sua voz: na clave uma acentuação rítmica balançada; nas notas agudas doses de drives para rechear.
                                         Foto: Luke Garcia
"O arranjo ficou cheio de nuances. Tem a parte B que optamos por abrir a sonoridade com um piano mais expansivo e as agudas bem limpas. Depois ela ainda ganhou uns vocais que fiz de teste no estúdio: o produtor Frederico Puppi reuniu eles em vários timbres de regiões diferentes e adicionou ao final", revela Mari. E o Ioiô deu bom: foi na tua caixa de som e voltou como quem não quer nada. 

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Salva Dor - Ifá


Salva Dor é uma música escrita coletivamente pela banda baiana Ifá e gravada no Ijexá Funk Afrobeat (2016), primeiro álbum do grupo. O tema teve como ponto de partida um riff de guitarra criado em estúdio. De sua chamada acelerada, surgiu a ideia de preenchê-la em clipe com imagens da cidade. Foi quando o baterista Jorge Dubman então batizou: Salva Dor. Para uma tradução em palavras dos sentimentos aplicados pelos músicos da Ifá na gravação do tema convidamos Fabrício Mota, historiador e baixista do grupo:
Foto: Fernando Gomes
"A faixa tenta traduzir uma expressão comum aqui na cidade: correria. Todo mundo segue na correria, todo mundo se refere ao cotidiano e suas fronteiras usando essa palavra. A correria é uma boa tradução especialmente porque confronta a visão racista sobre a preguiça, tão vergonhosamente difundida sobre nós Brasil afora. A correria é o que nos salva, é o que garante o sustento e ao mesmo tempo é razão de nossas angústias, das dores do cotidiano.
                         Foto: Matheus Leite
Em paralelo a intenção de traduzir a cidade e esse binômio (Salva + Dor), a faixa expressa a sensação de movimento, de estar no dia a dia, batalhando - 3 milhões de homens e mulheres e guerreando por tempos melhores. A música traz uma paisagem sonora híbrida, ora o suingue das guitarras lembrando o jeito de corpo das pessoas, ora a irritação do trânsito, da cidadã indignada, com tanto imposto e impostor (guitarra Fuzz de Junix), ora o som 'Konono', quase uma Kalimba africana. Assim essa é a nossa tradução instrumental de alguns sobreviventes na centenária cidade da Bahia"

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Oito Anos - Paula Toller/Dunga

Oito Anos é uma parceria de Paula Toller com o músico Dunga. A canção foi escrita a partir das perguntas feitas pelo filho da cantora, Gabriel, quando ele tinha oito anos de idade. A letra lista essas perguntas e eterniza a curiosidade das crianças durante a famosa fase dos porquês - momento em que os pais começam a ser questionados. 
Em 1998 a música foi gravada no primeiro disco solo de Paula Toller. Só em 2004 se tornaria hit infantil com a gravação feita por Adriana Calcanhoto para o CD/DVD Adriana Partimpim. No ano de 2007, a canção figurou como representante brasileira na exposição virtual Imagining Ourselves - celebração ao Dia das Mães feita pelo Museu Internacional da Mulher em São Francisco, na Califórnia 


Oito Anos extrapolaria o universo musical em 2015 com o lançamento em livro de Paula Toller com ilustrações de Bruna Assis. A obra escrita expande o universo de perguntas dos porquês. A letra com aos questionamentos de Gabriel aparece também, de forma espontânea, nas salas de aula de todo o Brasil. 

quarta-feira, 26 de julho de 2017

O fio de Teseu - Universo Variante

Fio de Teseu é uma canção de Daniel Barbosa. O cantor conta que se inspirou na rotina de professora da sua namorada Sílvia - especificamente no período em que ela saía para dar aulas em outra cidade (Entre Rios)."Ela sempre levava um pedaço de mim quando viajava, e eu de cá (Alagoinhas) ficava imaginando como era dar aula numa escola pública. Daí veio esse paralelo com o mito de Teseu e o Labirinto, em que ele precisava de um fio de corda para entrar e voltar são e salvo de lá", explica Daniel.
Na releitura do mito em canção, Daniel inverte os papéis e atribui a Teseu a entrega do fio de memória (uma canção?) que servirá de guia para o retorno seguro de Ariadne após os enfrentamentos da missão professora. "O minotauro seria esse sistema educacional que guarda um labirinto onde os alunos estão todos perdidos, tentando fugir dessa realidade que não dá asas as suas necessidades, desejos e imaginação", reflete Daniel. 
A canção foi gravada pela banda Universo Variante e lançada como single no ano passado. Nela o grupo passeia na cadência do samba, pincelando passagens do labirinto com guitarras wah-wah pontilhadas e o mistério de repentinos acordes diminutos. "Eu queria mesmo um samba tocado por roqueiro. A banda topou e cada um pode exprimir um tanto da sua identidade nela", assume Daniel.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Festa, Bolo, Velas e Palmas - Fernando Mascarenhas/ Bernardo Guerra


"Festa, Bolo, Velas e Palmas" é uma parceria de Fernando Mascarenhas e Bernardo Guerra. Fernando conta que a música nasceu em uma tarde tediosa na companhia do amigo e teve como impulso inicial criar uma reflexão sobre o próprio processo de composição. "Ela acabou ganhando vida própria, veio nos falar também sobre o processo de envelhecer e de como ele pode nos tornar mais sábios", explica o cantor. 
Respeitosa com o silêncio, a canção de Fernando e Bernardo é repleta de espaços; janelas convidativas para que o ouvinte ativo venha a ressignificá-la em sentidos. Com o escriba dessa história ela foi parar numa festa de aniversário, como trilha de um aniversariante suspenso ao redor da Festa, do Bolo, das Velas e das Palmas. "Não é o ritual em si que nos torna mais calmos e sábios. Isso de envelhecer bem é algo que a vida espera da gente, que com o passar dos anos não estejamos a repetir os mesmos erros", sinaliza Fernando.

"Festa, Bolo, Velas e Palmas" acaba de ser lançada como single e representa uma guinada na carreira musical de Fernando para uma linguagem mais intimista. Mineiro residente em São Paulo, ele voltou a Belo Horizonte para gravar em um dos poucos estúdios do Brasil que ainda trabalham com registro analógico. "Busquei uma gravação pautada na simplicidade, deixando de lado o foco nas guitarras do meu primeiro trabalho. A busca é por deixar a composição em primeiro plano", conclui Fernando. E acho que ele conseguiu.


segunda-feira, 24 de julho de 2017

Sobrenatural - Pélico

Sobrenatural é uma canção de Pélico gravada em seu terceiro disco Euforia (2015). O cantor revela que ela teve como inspiração a história de um amigo gay que se apaixonou por um rapaz casado. O relacionamento apresentava ainda outros desafios: o amigo é evangélico e teria de se assumir perante a comunidade de sua igreja e também diante da família. 
Estas foram as situações eternizadas pela letra da canção, em que o eu lírico luta pelo amor fiando-se na sua condição sobrenatural - para além do conceito bíblico de natureza. "Ele não conseguiu segurar essa barra do companheiro ser casado. Amores se vão, mas ficam as canções. Hoje ele está bem feliz com um novo namorado", explica Pélico.  
A faísca da composição surgiu quando Pélico associou a história que o amigo lhe contava com uma melodia que já morava na sua cabeça: "Eu tenho muitos rascunhos melódicos esperando por grandes histórias (risos). Pra mim é um grande prazer levar essas histórias pro palco. É lá que tudo faz sentido; todo esse trabalho de compor, gravar e distribuir os discos", declara o cantor.
Como single do disco, Sobrenatural marcaria presença na programação de rádios Brasil afora. Em 2015 - ano de lançamento do álbum - as execuções em uma emissora de Recife chegariam ao ponto de levar uma fã pernambucana a se deslocar para São Paulo só pra conferir a música ao vivo em um show de Pélico. "Eu tenho muito carinho por essa música, gosto muito do tema e, musicalmente, é a canção onde eu cheguei mais perto de uma das minhas referências musicais que é o Lulu Santos", confessa Pélico. 

domingo, 23 de julho de 2017

Até que o Sol mostre a sua graça - Lucas Costa


"Até que o Sol mostre a sua graça" é uma canção de Lucas Costa gravada pela banda Inventura. Lucas lembra que ela foi escrita em um dia de muita chuva, quando invocou o eu lírico para manifestar a sua vontade de estar acompanhado naquele momento. "Ela fala de como é mágico você estar com alguém que faça com que as coisas ao redor não tenham importância, ou que elas ganhem um significado especial, até mesmo a sua bagunça. É estar ali junto e se sentir livre pra não querer nem sair de casa", explica Lucas.

A faísca da canção surgiu em um ensaio da banda com o riff de guitarra da introdução. Lucas levou o trecho criado em estúdio para o seu laboratório criativo para travar um diálogo com outras ideias que se encontravam guardadas. No ensaio seguinte já tocavam "Até que o Sol mostre a sua graça" com a letra pronta. O baixista e vocalista assume a bagunça que a canção apresenta como parte do seu processo criativo: "Mas a minha bagunça é completamente organizada, há uma ordem ali que se arrumarem acaba com a minhas chances de me localizar ou localizar qualquer coisa", defende o cantor.
A faixa "Até que o Sol mostre a sua graça" está no primeiro álbum da banda Inventura, lançado em 2014. O trabalho foi gravado pelos próprios integrantes no Estúdio Jimbo, em Alagoinhas, e, depois, em Salvador, recebeu os cuidados de mixagem e masterização de André T. 

sábado, 22 de julho de 2017

Saudade dos Aviões da Panair - Milton Nascimento e Fernando Brant

* colaboração do jornalista musical Abner Moabe

Não faz muito tempo a canção “Conversando no Bar” pôde finalmente vir a assumir o seu título original. É que quando foi escrita, ser divulgada como “Saudade dos Aviões da Panair” soaria subversivo demais (letra). A música é mais uma das inúmeras parcerias de Milton Nascimento com o saudoso poeta e jornalista Fernando Brant. Ela foi gravada primeiramente por Elis Regina em 1974 e, no ano seguinte, pelo próprio Milton Nascimento. Em sua letra aparentemente singela, “Conversando no Bar” guarda memórias sobre um capítulo sombrio da história do Brasil que muitos insistem em negar. Esse texto falará mais sobre esses fatos do que sobre a música em si, mas no fim das contas, falando de um, estaremos falando do outro.

Eram três da tarde do dia 10 de fevereiro de 1965 quando um telegrama do Ministério da Aeronáutica chega aos escritórios da Panair do Brasil informando que o certificado de operação da empresa estava sendo cassado. A Panair era a maior empresa aérea do Brasil e uma das maiores do mundo. Naquela mesma noite, diversas tropas invadiram os hangares da empresa e passaram imediatamente ao comando da Varig. O curioso é que não havia nenhuma irregularidade nos impostos da empresa e mesmo assim a decisão do fechamento foi decretada pelo Marechal Castelo Branco.
Para explicar tal absurdo, entra em cena Mário Wallace Simonsen - um dos homens mais ricos do Brasil na época. Simonsen era o principal sócio da Panair e dono de inúmeras empresas, dentre elas, a TV Excelsior. Normalmente, grandes magnatas possuem boa relação com os detentores do poder, mas, no caso de Simonsen, a relação com os militares não era nem um pouco amistosa - querela que já vinha de antes mesmo do golpe. Mesmo não sendo um simpatizante da esquerda, suas pequenas atitudes em defesa da legalidade e da democracia brasileira acabariam causando a fúria dos militares e a sua própria ruína.
Em 1961, durante a tensão política que acabou resultando na renúncia de Jânio Quadros, enquanto os militares estavam prontos para tomar o poder, Simonsen mandou um de seus executivos para avisar ao vice-presidente João Goulart do que estava se passando no Brasil. Em viagem oficial a China, Jango corria o risco de voltar ao Brasil e se encontrar destituído do cargo que lhe era de direito.
Bastou um ano de governo militar para Simonsen ver o seu grupo empresarial desmoronar. A "falência" da Panair até hoje não foi reparada devidamente, assim como todos os demais crimes da Ditadura. Um mês após o fechamento da empresa, Simonsen faleceu, vítima de infarto. A TV Excelsior, a única que era opositora ao Regime Militar, começou a sofre pressões e ter seus programas censurados, entrando numa crise econômica que se agravou após o "incêndio" da sua sede, em 1989, fechando as portas em 1970.
Como é possível perceber, sentir saudades da Panair, como indicava a canção de Milton e Fernando Brant, não era algo bem visto pelas altas instâncias do poder ditatorial que regeu o Brasil de 1964 à 1985. Sentir saudade da Panair era sentir saudades de um tempo em que era permitido sonhar, de um tempo em que era permitido sentir saudades. Era lembrar que a maior das maravilhas era estar voando sobre o mundo nas asas da Panair.

Para que não mais se repita!!!

Para que não mais aconteça!!!

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Oi - Glauco Neves



Oi é uma canção do baterista e videomaker Glauco Neves. Ela foi escrita há dez anos quando Glauco se apaixonou pela sua atual esposa Clarissa Marques. Eles foram apresentados por um amigo em comum e o primeiro movimento de Glauco foi criar uma conta fake no Orkut para manter contato - ele ainda vivia o processo de terminar um relacionamento e não podia usar o seu perfil de comprometido, pois assustaria a moça. Obviamente a moça sacou tudo e questionou Glauco que teve de assumir.


O tempo passou, Glauco terminou o namoro e ficou sabendo de uma festa em que Clarissa com certeza estaria presente. Ele então vestiu o seu traje penetra, foi à festa, conquistou um beijo e ainda voltou de carona com a moça. Nos dias seguintes escreveria "Oi", a canção. "Na música eu dou um Oi assim, beeem despretensioso, procurando saber se aquela noite tinha pra ela o significado especial que teve pra mim", explica o baterista. 

Dias depois a música seria enviada (por MSN) para Clarissa em uma gravação caseira feita no seu Mp3 Player - somente voz e violão como manda a tradição das serenatas. "Fiquei surpresa quando ele mandou a música, achei bem corajoso da parte dele. Era uma gravação bem tosquinha, mas eu ficava ouvindo toda hora", revela Clarissa. A cantada foi mesmo certeira: estava estabelecido o elo amoroso entre Glauco e Clarissa que há um ano se expandiu com a chegada do pequeno Benjamim.
Como amuleto do casal, a canção se fez presente também no pedido de casamento - feito por Glauco durante um show, em pleno dia dos namorados (que você confere no vídeo abaixo). Anos depois "Oi" receberia sua gravação oficial no primeiro disco de Glauco Neves e Sua Orquestra Elegante. "Nela eu toco bateria e canto. Ficou pegada Roupa Nova, bonitona, com a produção do Alex Reis", reitera Glauco

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Melhores Quanto ao Carnaval - Escambau

“Melhores Quanto ao Carnaval” é uma canção de Giovanni Caruso. O músico conta que ela foi escrita no Paraguai, terra natal da sua esposa, onde costuma se retirar para o ócio criativo. “Ela foi dessas músicas que surgem de uma sentada só, uma estrutura simples de quatro acordes maiores. Fiz no violão, tocando bem baixinho porque a minha filha estava dormindo no mesmo quarto. Depois até aumentamos o tom para a gravação, pra que ela tivesse um acento mais punk”, revela Giovanni.
Do seu retiro, Giovanni escreveu uma letra que reflete com ironia a crise moral vivida pelo cidadão brasileiro - perdido no mar de notícias diárias sobre crimes de corrupção e de sua contínua impunidade. “Eu confesso que muitas vezes até fujo do noticiário, me pergunto de que adianta gravar músicas, lançá-las, quando nos vemos diante de uma máfia tão inescrupulosa. Mas ao mesmo tempo eu percebo que essa é a arma que nós temos pra enfrentar tudo isso. Não vejo como ser artista dando as costas para a realidade”, explica Giovanni.
“Melhores Quanto ao Carnaval” foi lançada como clipe e é o primeiro single do disco duplo “Sopa de Cabeça de Bagre” (2017) da banda Escambau. "Ela surgiu em meio à gravação do disco, quando ele ainda nem era concebido como duplo. A banda identificou uma urgência em veicular a mensagem dela. Lançar o trabalho sem ela, seria como 'entrar em campo com o Garrincha no banco'", brinca Giovanni.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Sol do meio Dia - Dante Oxidante e Serafim Martinez


Sol do Meio Dia é uma parceria dos músicos Dante Oxidante e Serafim Martinez. Ela é inspirada na esperança do cidadão do interior que migra para os grandes centros urbanos em busca de melhores condições de vida. "Essa melhoria nem sempre é o que acontece. Quem trabalha na rua, com o Sol na cabeça, é que sabe o real valor da vida", explica Dante. 
A canção reflete a trajetória do próprio Dante que aos 8 anos de idade saiu de Feira de Santana com os pais rumo a Salvador. Na capital, logo cedo, ele se encontraria na música: aos 11 anos foi classificado no curso de extensão e bateria/percussão da Escola de Música da Universidade Federal do Estado da Bahia onde se formaria musicalmente até os 18 anos. "Mas ainda é lá na roça que eu sigo buscando inspiração para as conquistas aqui na cidade", confessa o cantor. 
Finalizada em 2000,  Sol do Meio Dia foi gravada pelo cantor no seu primeiro disco solo, "Devagar também é pressa", lançado este ano. A faixa, balançada entre o reggae e o baião, conta com a participação especial do mestre da percussão Gabi Guedes (Orquestra Rumpilezz).  

terça-feira, 18 de julho de 2017

Cajuína - Caetano Veloso

*Texto de Caetano Veloso publicado no Blog do Moreno



"Numa excursão pelo Brasil com o show Muito, creio, no final dos anos 70, recebi, no hotel em Teresina, a visita de Dr. Eli, o pai de Torquato. Eu já o conhecia pois ele tinha vindo ao Rio umas duas vezes. Mas era a primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato. Torquato estava, de certa forma , afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha chegada de Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio (com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool). 
Eu não o vira em Londres: ele estivera na Europa mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso. No dia em que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do tropicalismo: entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais freqüentemente com Chico do que comigo. Chico eu eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental. 

Quando, anos depois, encontrei Dr. Eli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se desfez. E eu chorei durantes horas, sem parar. Dr. Eli me consolava, carinhosamente. Levou-me à sua casa. D. Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada. Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia quase nada. Tirou uma rosa-menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente. Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Eli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei. No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi Cajuína."

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Reamanhecer - Thiago Ribeiro


Reamanhecer é uma canção do músico Thiago Ribeiro gravada pela banda Toco Y Me Voy. Ela teve como inspiração a técnica cinematográfica utilizada pelo diretor espanhol Pedro Almodôvar de fazer das cores elementos narrativos. Desta apreciação estética, Thiago escreveu uma canção em que o eu lírico passeia por uma paleta de cores a partir das suas sensações."Um belo dia - depois de um outro muito complicado -, brincando com o bandolim, me veio quase toda a música. Nela eu falo deste dia anterior do ponto de vista do dia seguinte, ao reamanhecer", explica o cantor.
                                                                          Foto: Flora Rocha
A faixa Reamanhecer dá nome ao segundo disco da Toco Y Me Voy, lançado em 2016. Thiago conta que ela foi escolhida para o batismo da obra por oferecer um retrato fiel do momento vivido pelo grupo. "A música fala dessa necessidade de nos reinventarmos constantemente. Eu e a banda passamos por momentos complicados até chegar a este trabalho", revela Thiago. 

                                                                   Foto: Maira Lins

Não só o cineasta espanhol influencia a musicalidade de Thiago, ele conta que quando morava em Londres decidiu realizar uma viagem pela Europa antes de voltar para o Brasil. Acabou se encantando pela cidade de Granada e por lá ficou por mais um ano digerindo a musicalidade moura e estudando o violão flamenco. 
                                                                           Foto: Flora Rocha
"A experiência de tocar com muitas pessoas de diferentes culturas me incentivou a fazer o que fazemos na Toco que é tentar combinar essas estéticas musicais diversas através de um ponto comum entre elas", explica Thiago. Este encontro musical está em Reamanhecer e também na originalidade do grupo que reúne bandolim, baixo, acordeon e bateria para chegar aos nossos ouvidos com o frescor de um um novo dia.   
 TOP 3 Filmes de Pedro Almodóvar por Thiago Ribeiro:


domingo, 16 de julho de 2017

Emadeirado - Leopoldo Vaz



O Single do Dia pela primeira vez vai de música instrumental – porque o som comunica mesmo para além das palavras. Emadeirado é uma composição de Leopoldo Vaz escrita em 2012, dedicada a sua então companheira Vera Pessoa. “A ideia foi presenteá-la com uma música que representasse o estado de espírito de estar com ela, acompanhado, vivendo aventuras juntos”, revela o compositor. 


Pois o recado musical seria bem recebido pela moça : "Fiquei encantada.Acho que deve ser diferente de receber uma canção, que é algo mais objetivo. Foi uma homenagem assim sem palavras, de entender os sentimentos que estão ali", revela Vera.


O neologismo do título - que na música instrumental costuma servir de guia à percepção do ouvinte - remete ao apreço de Leopoldo pelos instrumentos de sopro feitos de madeira: o tema foi escrito para um quarteto desta natureza. “É uma formação que pelos timbres confere a suavidade e leveza que a música pede”, explica o compositor. Na partitura Leopoldo fez questão de indicar que a composição deve ser tocada “cheia de encantos, suaves e graciosos”.

sábado, 15 de julho de 2017

A Casa - Vinicius de Moraes


A Casa é uma canção do poeta Vinicius de Moraes inspirada na Casapueblo - um Hotel Castelo, em Montevidéu, com mais de setenta quartos construído em formas arredondadas pelo artista Carlos Paéz Vilaró. A música remete ao período em que o poeta trabalhava na embaixada brasileira, no Uruguai, e se hospedava por lá. Durante suas estadias na casa Vinicius brincava com as filhas do anfitrião cantando: "Era uma casa muito engraçada não tinha teto, não tinha nada..."
A música seria gravada na década de 80, no último trabalho em disco de Vinicius: o álbum de canções infantis "A Arca de Noé". Com produção de Fernando Faro e arranjos do maestro Rogério Duprat, o disco seria lançado meses depois da morte do poeta, em comemoração ao dia das crianças. Na gravação de "A Casa" os versos finais da letra foram substituídos. De "Mas era feita com pororó [termo indígena que significa palavras ocas; lenga-lenga] / Era a casa de Vilaró”. Vinicius mudou para: “Mas era feita com muito esmero / na rua dos bobos, número zero"".

Casapueblo que inspirou a canção funciona hoje como e também Museu, homenageando com o nome dos quartos os seus hóspedes ilustres. Além de Vinicius, estão na lista os atores Alain Delon e Robert de Niro, a atriz Brigitte Bardot e o jogador de futebol Pelé.



sexta-feira, 14 de julho de 2017

Pai-Mãe - Dan Caribé


Pai-Mãe é uma canção escrita por Dan Caribé durante o processo de gestação do seu filho Zaki Lume na barriga da mãe Natalia Corbi. A inspiração para escrevê-la pintou enquanto ouvia um reggae e a expressão “pai-das-luzes” clareou algo na sua mente. “Pedi licença pro som do Sine Calmon, sentei com a viola, chamei por três acordes e comecei a escrevê-la”, revela Dan. 


Em sintonia fina, a canção só seria concluída momentos antes da mamãe entrar em trabalho de parto. Hoje, prestes a completar quatro anos, o garoto Zaki já cantarola junto a sua música de boas vindas. “Ele acompanha quando toco, principalmente as frases finais dos versos. E quando vê o clipe, me chama e aponta: "Papai, ói eu ali"”, conta Dan.



Pai-Mãe foi gravada no estúdio Trina, em Araraquara, com produção e mixagem de Fernando Schin. Ela resultou em um reggae mantra poderoso que reúne às reflexões de Dan sobre a benção da paternidade e sobre os ensinamentos espirituais aprendidos na Universidade Brahma Kumaris. A faixa foi lançada virtualmente em 2016 com videoclipe dirigido por Wisley Luiz.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Coisas Desesperadoras do Rock'n Roll - Leandro Delmonico/Igor Filus


“Coisas Desesperadoras do Rock’n Roll” é uma parceria dos primos Leandro Delmonico e Igor Filus. Ela foi gravada pela banda Charme Chulo no seu terceiro disco Crucificados pelo Sistema Bruto (2014). Leandro recorda que a inspiração para escrevê-la surgiu nos camarins de uma gravação para TV. “Era uma chamada para o festival Lulapaluna. Levei minha viola caipira e ficamos ali com a turma da Blindagem. No papo, o baixista Paulo Juk se queixava de uma dor no rim. Aquilo se juntou com outras coisas desesperadoras que vivíamos e me levou a concluir que naquele momento era melhor fazer o que a gente acreditava (mesmo com dor no rim ou nas costas) do que fugir da nossa essência por fins comerciais”, explica Leandro.
Era o ano de 2011 e a banda Charme Chulo acabava de voltar de uma temporada em São Paulo divulgando o seu segundo disco (Nova Onda Caipira, 2009). A banda passava por mudanças de formação (baixista e baterista) e buscava um novo repertório que renovasse a paixão dos integrantes pela música. 

Assim que "Coisas Desesperadoras do Rock’n Roll" surgiu, caiu como uma luva: ela é o primeiro flerte da banda com o hard rock e traz o tom de ironia que o grupo buscava para o novo disco. “A música versa sobre todo o desespero de fazer rock (ou indie rock ou rock caipira), em condições precárias e, mesmo assim, amar e acreditar nisso”, reflete Leandro. 
A faixa ganhou videoclipe, com direção de Eugênia Castello, em que a banda aparece num cenário de programa de TV e saúda símbolos da cultura roqueira: o motociclista com mais de 40, o figurino glam, a performance exagerada. Em celebração ao dia mundial do Rock, comemorado hoje, 13 de julho, o guitarrista Leandro Delmonico foi convidado a nos contar também sobre a sua iniciação neste gênero musical: 

Foto: Diego Martins
“Me iniciei do jeito mais clássico possível; para me enturmar e, consequentemente, montar uma banda. Gostava de futebol e na minha infância já havia pensando em tocar bateria, no entanto, não tinha contato com nenhuma pessoa da minha idade que tocasse algum instrumento. Meu pai gostava de rock clássico e lembro de aos 13 anos me encantar por algumas canções de rock. Nunca vou esquecer quando ouvi a música 'Basket Case', do Green Day, em algum documentário de skate e quis muito ter aquele som para ouvir de novo. Na época, fim dos anos 1990, o Igor (primo quase 4 anos mais velho e hoje vocalista do Charme Chulo) já começava a colecionar álbuns clássicos do Punk (Ramones, Clash, Pistols), além de bandas nacionais como Legião, Replicantes, entre outras. Eu estava ouvindo muito AC/DC e começando a gostar dos sons que ele me apresentava. Foi aí que meu pai chegou com uma guitarra usada, falando que eu podia ter aulas com um cara que ele conheceu na empresa. Nunca me imaginei tocando guitarra e não tinha coordenação motora para isso, não é à toa, que brinco que o fato de eu tocar o instrumento é um verdadeiro milagre da natureza. Após alguns anos descobrimos a música caipira de raiz e entendemos que rock não é apensas distorcer uma guitarra e fazer cara de mal, mas sim se mostrar jovem de alma, inovar e questionar as coisas pré-estabelecidas”.