sábado, 22 de julho de 2017

Saudade dos Aviões da Panair - Milton Nascimento e Fernando Brant

* colaboração do jornalista musical Abner Moabe

Não faz muito tempo a canção “Conversando no Bar” pôde finalmente vir a assumir o seu título original. É que quando foi escrita, ser divulgada como “Saudade dos Aviões da Panair” soaria subversivo demais (letra). A música é mais uma das inúmeras parcerias de Milton Nascimento com o saudoso poeta e jornalista Fernando Brant. Ela foi gravada primeiramente por Elis Regina em 1974 e, no ano seguinte, pelo próprio Milton Nascimento. Em sua letra aparentemente singela, “Conversando no Bar” guarda memórias sobre um capítulo sombrio da história do Brasil que muitos insistem em negar. Esse texto falará mais sobre esses fatos do que sobre a música em si, mas no fim das contas, falando de um, estaremos falando do outro.

Eram três da tarde do dia 10 de fevereiro de 1965 quando um telegrama do Ministério da Aeronáutica chega aos escritórios da Panair do Brasil informando que o certificado de operação da empresa estava sendo cassado. A Panair era a maior empresa aérea do Brasil e uma das maiores do mundo. Naquela mesma noite, diversas tropas invadiram os hangares da empresa e passaram imediatamente ao comando da Varig. O curioso é que não havia nenhuma irregularidade nos impostos da empresa e mesmo assim a decisão do fechamento foi decretada pelo Marechal Castelo Branco.
Para explicar tal absurdo, entra em cena Mário Wallace Simonsen - um dos homens mais ricos do Brasil na época. Simonsen era o principal sócio da Panair e dono de inúmeras empresas, dentre elas, a TV Excelsior. Normalmente, grandes magnatas possuem boa relação com os detentores do poder, mas, no caso de Simonsen, a relação com os militares não era nem um pouco amistosa - querela que já vinha de antes mesmo do golpe. Mesmo não sendo um simpatizante da esquerda, suas pequenas atitudes em defesa da legalidade e da democracia brasileira acabariam causando a fúria dos militares e a sua própria ruína.
Em 1961, durante a tensão política que acabou resultando na renúncia de Jânio Quadros, enquanto os militares estavam prontos para tomar o poder, Simonsen mandou um de seus executivos para avisar ao vice-presidente João Goulart do que estava se passando no Brasil. Em viagem oficial a China, Jango corria o risco de voltar ao Brasil e se encontrar destituído do cargo que lhe era de direito.
Bastou um ano de governo militar para Simonsen ver o seu grupo empresarial desmoronar. A "falência" da Panair até hoje não foi reparada devidamente, assim como todos os demais crimes da Ditadura. Um mês após o fechamento da empresa, Simonsen faleceu, vítima de infarto. A TV Excelsior, a única que era opositora ao Regime Militar, começou a sofre pressões e ter seus programas censurados, entrando numa crise econômica que se agravou após o "incêndio" da sua sede, em 1989, fechando as portas em 1970.
Como é possível perceber, sentir saudades da Panair, como indicava a canção de Milton e Fernando Brant, não era algo bem visto pelas altas instâncias do poder ditatorial que regeu o Brasil de 1964 à 1985. Sentir saudade da Panair era sentir saudades de um tempo em que era permitido sonhar, de um tempo em que era permitido sentir saudades. Era lembrar que a maior das maravilhas era estar voando sobre o mundo nas asas da Panair.

Para que não mais se repita!!!

Para que não mais aconteça!!!

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