sábado, 30 de setembro de 2017

Corte e Costura - Achiles Neto/Conrado Pera

"Corte e Costura" é uma parceria musical de Achiles Neto e Conrado Pera. Os músicos se conheceram em um festival de música realizado em Ponta Grossa, Paraná. A admiração foi mútua e pintou a deixa para que fizessem algo juntos. Não demorou e pariram uma primeira parceria (Canto Chão). A segunda foi "Corte e Costura" que Conrado enviou a Achiles como melodia para pôr letra. "Ela me surgiu quando estava em São Paulo no estúdio do meu Pai. Era uma melodia bem longa que, tempos depois, revisitando o baú, resolvi enxugar e mandar pra ele", conta Conrado. 
"Ela fala de um desses amores intensos que a gente vive na vida. Talvez ela seja a própria conclusão desse relacionamento. A letra teve como ponto de partida as reflexões trazidas por Gilberto Gil em 'A Linha e o Linho' - lembro que ouvia muito no período que escrevi. Vejo ela como a minha contribuição nesse papo de amor real", explica Achiles.  
Assim que ficou pronta, a canção foi para a bagagem dos parceiros ser apresentada em diversos festivais Brasil afora. Saiu vencedora do Festival Nacional da Canção de 2015, disputando com mais de três mil canções."Chegou na final, eles chamaram os cinco vencedores um por um. Todo mundo olhando pra gente e quando chamaram o nosso nome saímos pulando de alegria no Teatro. Tivemos a honra de receber o prêmio das mãos do Toninho Horta, guitarrista do Clube da Esquina que foi um dos jurados do Festival", conta Conrado. "Corte e Costura" ganhou sua primeira gravação em disco no EP Divino e Ateu (2017), trabalho de estreia da carreira solo de Achiles. Na faixa destaca-se a sua envolvente interpretação vocal conduzida por arranjos bem dosados na dramaticidade.
A versão de Conrado Pera para "Corte e Costura" já encontra-se gravada e será lançada em breve no seu próximo disco.  Ele cantará sobre a dedicação no amor em dueto com Chico César. O convite para a participação especial partiu, vejam vocês, da sua namorada, Amanda de Paula. Ela é amiga pessoal do Chico e percebendo a afinidade entre os músicos fez a proposta assim que se conheceram. O cantor paraibano topou de pronto e faria a escolha da música tempos depois, em um momento mais intimista enquanto tocavam violão juntos em casa.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

As Longas Passagens - Diego Fox


As Longas Passagens é uma composição de Diego Fox gravada pela banda Pagenianos no álbum "A Estrada de Seu Zé" (2006) . Diego lembra que ela é uma composição anterior ao disco, resgatada em meio ao ambiente de experimentação que caracterizou a produção da obra. "Foram horas de liberdade artística dentro do estúdio quebrando garrafas e gravando guitarras ao contrário - um grande laboratório para as loucuras de hoje. 'As Longas Passagens' veio a casar perfeitamente com a trilha sinuosa do disco ", declara o músico.
Os elementos experimentais do arranjo conferem à canção uma atmosfera épica, atribuindo o frescor que as descobertas do eu lírico pedem: "as longas passagens da vida/ jamais passaram por aqui/ eu sempre estive esperando/mas nunca vieram até mim/será que foi porque eu nunca me mexi/e ir, eu que devia, e não ela vir?". 
"Ela foi escrita na época dos meus primeiros empregos, dessas primeiras portas que as pessoas costumam dizer que são definitivas em nossas vidas. Algumas dessas eu deixei passar, outras se abriram, se revelaram em caminhos ou entradas. Hoje percebo que é uma questão de equilíbrio: eu quem devo ir, mas também quando menos esperamos as passagens podem surgir", reflete Diego. A banda Pangenianos atuou no circuito musical baiano durante a primeira década deste século, tendo lançado dois discos. Ao encerrar suas atividades, três dos integrantes se metamorfosearam para realizar o projeto musical Suinga que segue em atividade. 

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A Montanha Sagrada - Julito Cavalcante


"A Montanha Sagrada" é uma canção de Julito Cavalcante gravada pela banda BIKE no seu segundo disco "Em Busca da Viagem Eterna" (2017). O guitarrista conta de sua primeira referência montanhosa refletida na composição: "Sou de Taubaté, cidade que fica há 40km da Serra da Mantiqueira e desde moleque visito na região um dos pontos mais altos do país: o Pico Agudo. A primeira frase da música 'subi a montanha pra ficar mais perto do céu' veio dessas visitas - ela já vivia na minha cabeça antes mesmo da banda existir", explica Julito.

Os versos só encontrariam com a música que lhe estava destinada depois da passagem da banda por São Carlos - em uma apresentação que ficou marcada pela projeção das imagens do filme A Montanha Sagrada de Alejandro Jorodowsky. A película, um clássico da contracultura, foi lembrada para batizar um riff criado por Julito em estúdio. "Encaixei essa primeira frase no tema e parecia que a música estava pronta, mas tocando acrescentei as outras duas frases que combinaram com a dinâmica da música ao vivo: assim ela ganhou a ideia de subida e descida da Montanha", conta o guitarrista.
"A Montanha Sagrada" foi lançada como o primeiro single do segundo disco do BIKE. A ideia de ascensão provocada pelo seu clima etéreo chegou a despertar a curiosidade de praticantes religiosos: ela já foi utilizada como trilha em um encontro de jovens evangélicos.  Hoje o próprio autor, refletindo sobre a composição, percebe-a como uma narrativa sintética dos aspecto cíclicos do mercado musical: "Um dia você tem toda a atenção da imprensa e do público, todos querem o seu show, você está no topo da montanha. Pouco tempo depois você já não está em alta e volta ao pé da montanha. Isso aconteceu com a gente: o nosso primeiro álbum reverberou muito, mas ainda não éramos uma banda pronta. Agora estamos no processo de nos reafirmar como banda ao vivo: não temos mais o hype do primeiro álbum, mas com certeza nossas apresentações estão anos luz à frente do que já foram", resume Julito.  

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Bote Aê - Gabriel de Carvalho/Tangre Paranhos

"Bote Aê" é uma parceria dos músicos Gabriel Carvalho e Tangre Paranhos (in memorian) gravada pela banda Folha de Chá no álbum Aquela Mensagem (2006). O baterista Gabriel lembra que a canção foi escrita em 2005 a partir do espírito comunitário que caracteriza os ensaios de banda - momento em que os músicos sempre estão pedindo alguma coisa uns para os outros. "É uma canção que apesar de descontraída passa uma mensagem da realidade de milhões de brasileiros que vivem em dificuldades financeiras. Um recado que permanece bem atual, pois, desde que foi gravada, o quadro econômico, político e financeiro do país se agravou", reflete Gabriel. 
Quando "Bote Aê" foi lançada pela Folha de Chá a sua levada reggae do pelô conquistou boa execução nas rádios locais, fazendo com que se tornasse o grande sucesso da carreira da banda. Os autores chegaram a ser procurados pelo cantor Beto Jamaica para que autorizassem uma regravação com o grupo Chinelada. (A nossa equipe não conseguiu localizar esta versão, se você tem acesso a ela entre em contato conosco). "Bote Aê" também ganhou uma versão em espanhol da própria Folha de Chá - um incentivo pessoal de Francisco Horne, baixista do grupo, que é argentino.

Em dezembro de 2016, Tangre Paranhos, tecladista da Folha de Chá e parceiro de Gabriel em "Bote Aê", veio a falecer, deixando no grupo muitas saudades e canções. "Faz parte dos meus planos futuros gravar as outras músicas que fizemos em parceria. Muitas delas ainda se encontram inéditas", revela Gabriel. 




segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O Amanhã - Thiago Brandão

No single de hoje celebramos mais um lançamento exclusivo: "O Amanhã" é uma das faixas do disco "Perdido em Contos e Sonhos" que a banda Andaluz lança depois de hoje com show no Teatro SESI, em Salvador. O autor e vocalista do grupo Thiago Brandão conta do significado pessoal que a música ganhou em sua vida: "Não tenho carro, ando bastante na rua e lá eu sinto de perto a insegurança que se espalha pela cidade de Salvador. 'O Amanhã' saiu como um grito de socorro, me fez criar coragem para seguir enfrentando as esquinas", explica.
Além de amuleto pessoal, "O Amanhã" é também a realização de um antigo sonho musical de Thiago: convidar uma intérprete para um dueto em disco. A cantora escolhida para compartilhar das inseguranças narradas na letra foi Gabriela Ferreira. "A música traz dois personagens distantes que se encontram no refrão e ali eles se ajudam a vencer a escuridão das dúvidas. Fiquei muito feliz com a participação de Gabriela e já estou rascunhando novas canções para ela interpretar", revela Thiago.


No arranjo musical de "O Amanhã" destaque para o timbre reconfortante do Mellotron - teclado eletromecânico popularizado pelos Beatles na década de 60 do século XX através da gravação de "Strawberry Fields Forever". "O Mellotron foi um ponto de partida do arranjo e não seria gravado não fosse o conhecimento de Jorge Solovera com quem divido a produção musical do disco. Nos unimos em referências comuns, a ponto de ele tocar de tudo um pouco no álbum: guitarra, ukulele, violão, teclado e até percussão", revela Thiago. 

domingo, 24 de setembro de 2017

Só Se For com Você - Matheus Nasce


Só Se For Com Você é uma composição de Matheus Nasce. O músico conta que a ideia da canção surgiu enquanto assistia ao filme "Caramuru - A Invenção do Brasil", atendendo a lista de obras exigidas pela seleção do vestibular que iria prestar. "Tem uma cena em que Caramuru vira para Paraguaçu e diz: 'Eu quero te amar para sempre'. E ela de pronto responde: 'Eu não quero te amar para sempre não, eu quero te amar é agora'. Foi um primeiro momento que me chamou a atenção, mas ali eu deixei passar: o violão ficou só me olhando".

O filme seguiu e a índia Paraguaçu foi então a Portugal. Ao ser apresentada a expressão "corredor", ela a interpretou ao pé da letra e começou a correr no salão da corte. Mais uma passagem que despertou a antena do compositor: "Foi ali que eu parei o filme e comecei a escrever. Juntei as duas passagens e escrevi o primeiro verso, foi o ponto de partida da música", explica Matheus. 
Só Se For Com Você foi lançada como prévia do EP Brasil com Z, trabalho de estreia de Matheus Nasce. A faixa transita entre o reggae, o samba-reggae e o rock como atmosferas por onde passeia a interpretação romântica do cantor. Quanto ao vestibular, o filme não chegou a cair na prova, mas Matheus foi aprovado e hoje divide a carreira musical com a formação em Direito. 

sábado, 23 de setembro de 2017

Reggae da Independência - Jorge Alfredo/Chico Evangelista


O cortejo da festa do 2 de julho, realizado anualmente na cidade de Salvador,celebra a vitória da população baiana contra as tropas portuguesas que ocupavam a cidade em 1823. A data é considerada um marco na independência do Brasil, tendo reunido um exército de cidadãos comuns vindos de diversas cidades do Estado. 
A faixa aparece no único disco lançado pela dupla: Bahia Jamaica (1980) - uma pérola inaugural do reggae brasileiro.A letra recria a atmosfera viva e intensa da festa do 2 de julho, evocando a sua mística de contágio popular.




sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Modo Hard - Circo de Marvin

Modo Hard é uma canção de Bruno Souri gravada pela banda Circo de Marvin. O vocalista conta que escreveu a letra refletindo sobre como encarar as dificuldades da vida a partir da linguagem contemporânea dos games. "Os obstáculos não são o problema em si, eles são os desafios que devemos superar. Lembro que ela foi escrita justamente no dia em que a banda foi a uma casa de shows em Salvador pedir para abrir um evento e fomos menosprezados pelo gerente.Aquela recusa passou a fazer parte da nossa historia e está lá estampada nos primeiros versos da canção", explica Bruno.
Extrapolando a dimensão auditiva, Modo Hard ganhou clipe em que os músicos vivenciam novamente a cena de recusa - só que dessa vez diante de um gerente de gravadora. A película - dirigida por Glauco Neves - foi vencedora do Prêmio Caymmi 2017 na categoria videoclipe e teve sua linguagem visual toda inspirada no game Grand Theft Auto (GTA), fazendo uma reconstrução libertária dos artistas dentro da realidade virtual do jogo.
Modo Hard dá nome ao primeiro disco da banda Circo de Marvin que foi lançado em 2015. Na gravação da faixa destaque para o inventivo arranjo de vozes que emula a fala de personagens de videogames. "O curioso é que essas vozes surgiram antes mesmo da gente identificar que a relação com os games seria o tema da letra. Em nossas composições costumamos improvisar no estúdio em cima do instrumental. Quando alguma ideia interessante acontece a gente grava e daí é que partimos para elaborar a letra em cima", revela Bruno. 


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Debaixo de Chuva - Carlos Nery/Teago Oliveira

Debaixo de Chuva é uma parceria de Carlos Nery e Teago Oliveira gravada pela banda Maglore no disco Vamos Pra Rua. Nery lembra que a melodia inicial surgiu dentro do carro em Aparecida durante uma turnê da banda pelo interior paulista. "A letra desse trecho mantra foi surgindo aos poucos nos devaneios da vida em São Paulo, cidade da garoa", explica o ex-baixista da Maglore.  
A canção seria lembrada no retiro da banda no distrito de Jauá (Bahia), durante a pré-produção do disco Vamos Pra Rua - foi quando ganhou a segunda parte da letra. "Ela trata de uma situação comum de viagens da mente enquanto estamos distraídos em meio ao transporte público. No caso, tudo acontece na cabeça do eu lírico, ansioso a espera do trem", explica Teago. 
Uma curiosidade é que a casa de Jauá onde "Debaixo de Chuva" foi finalizada hoje encontra-se disponível para o ensaio/gravação de outras bandas através da plataforma Airbnb

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O Vento - Pedro Pondé/Ênio Nogueira


O Vento é uma composição escrita em parceria por Pedro Pondé e Ênio Nogueira. Pedro conta que a canção teve como ponto de partida uma linha de baixo acompanhada de percussão que gravou no computador de casa. "Em cima dessa base fui construindo a letra. A inspiração pros versos me veio de maneira intuitiva, refletindo experiências vividas com o chá Ayahuasca nos últimos 20 anos", revela o músico. (O cantor ressalta que as sessões de que participou foram sempre conduzidas por pessoas que detém conhecimento e experiência sobre o uso apropriado da bebida)
Na jornada de autoconhecimento promovida pelo chá enteógeno, Pedro desvendou em versos algumas das armadilhas trazidas pelo hábito humano de julgar o outro: "O julgamento é um cárcere: é esse jogo em que as pessoas tentam diminuir as outras para parecerem maiores. Na música expresso o quão importante tem sido me colocar no lugar do outro, como uma forma inclusive de levar a vida nesses dias em que as pessoas tem se julgado tanto", explica Pondé. 
O Vento foi lançada no EP Licença (2017) - primeiro trabalho solo de Pedro Pondé em seus 25 anos de carreira na música e no teatro. A faixa conta com a produção de Ênio Nogueira e recebeu os cuidados de André T na mixagem e masterização.  
O cantor chegou à pré-produção acreditando que a música estava pronta, até receber um feedback do seu produtor e guitarrista."Ênio identificou que faltava uma crescente nela, uma parte mais forte. Ali mesmo sugeriu algo na guitarra, indicou o caminho da melodia. De um dia pro outro acordei no meio da noite e finalizei a letra", conta Pondé. Em mais uma demonstração de que os caminhos intuitivos da arte não cabem no controle do homem, a letra recebeu mais uma inesperada alteração: um erro do cantor na gravação acabou como verso final.


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Terra de Barro - Balaio

*colaboração de Rafael Flores , da Revista Gambiarra 


Apenas o violão nas mãos, uma voz rasgada/potente na garganta e uma mente afiada para letras fazem o Balaio. Não estamos falando de um cesto de palha e sim do cantor e compositor que lançou esta semana o single “Terra de Barro” nas plataformas digitais. 
Foto: Joab Mercês
Segundo o artista, a música é “um grito, um desabafo” como o de alguém que quer se libertar de algumas amarras. “É tirar onda com a cara das pessoas que impedem as nossas potencialidades na vida, é uma canção sobre o querer e não poder”, conta. 
                                                                         Foto: Joab Mercês
Inicialmente “Terra de Barro” - a primeira gravação em estúdio do projeto solo do artista - parece uma ode ao sertão, mas além disso guarda um pouco de metáforas e mensagens sobre a juventude. “As pessoas falam que a nossa juventude é morta, mas ela tá explodindo pelos cantos. São tantas maneiras de ser que estão surgindo, que quem é mais velho se choca.Na verdade todo mundo é terra de barro, todo mundo é fértil, mas tem gente que impede e insiste em se secar”, explica Balaio.


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Ouro de Tolo - Raul Seixas/Paulo Coelho



"Ouro de Tolo" é uma parceria entre o músico Raul Seixas e o escritor Paulo Coelho. Ela foi lançada nacionalmente no dia 7 de junho de 1973, a partir de uma ousada estratégia da dupla que convocou a imprensa nacional para ouvi-los cantando em meio a multidão de transeuntes da Avenida Rio Branco, em pleno Centro do Rio de Janeiro. A ação musical obteve repercussão e foi veiculada na edição do Jornal Nacional daquele dia.



A partir de então o compacto obteve enorme popularidade e propagou a crítica mordaz da letra às ilusões vividas pela classe média brasileira diante do milagre econômico. A interpretação biográfica de Raul concede um honroso tapa na cara da sociedade; ao desfazer-se publicamente das conquistas materiais, o poeta segue novo rumo em busca de uma elevação espiritual. Depois de fazer sucesso como compacto, Ouro de Tolo saiu como faixa do disco Krig-Há, Bandoló! - primeiro álbum do maluco beleza -  e se tornou um dos grandes clássicos da música popular brasileira.



sábado, 16 de setembro de 2017

Reforma Constitucional - Kaíque Sagaz

Reforma Constitucional é uma canção de Kaíque Sagaz. O músico conta que ela foi escrita em 2013 em meio as manifestações sociais que ocorreram em todo o Brasil naquele ano. "A minha ideia foi apresentar aquela que acredito seja a solução para o problema cultural de corrupção no Brasil: a realização de uma Reforma Constitucional. Diferente do que aponta Renato Russo em 'Que País é esse?', todos respeitam a Constituição, principalmente os politiqueiros que escreveram as contradições que estão no texto", provoca o músico. 
Foto: Lalesca Weiz
Na atuação como músico de rua, Kaíque leva a sua canção de protesto para circular nos ônibus coletivos da cidade de Salvador, recebendo a resposta espontânea dos passageiros. "As pessoas entendem o chamado e às vezes fazem filmagens que vão pras redes. Quando tem criança é mais divertido ainda porque rola uma animação que contagia o buzu", conta o músico. 
Para a gravação de Reforma Constitucional, Kaíque tocou todos os instrumentos em um homestudio no Cabula sob os cuidados do produtor Marcelo Cabral que assina também a mixagem e masterização da faixa. O resultado musical surpreendente e a mensagem incisiva sensibilizaram os jurados do XV Festival da Educadora FM, fazendo com que a canção esteja classificada entre as finalistas desta edição.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

sem refrão - cama de jornal


"sem refrão" é uma parceria dos músicos Nem Tosco Todo e Lázaro Ribeiro e tem apenas 14 segundos de duração. Nem conta que ela foi escrita como uma crítica às músicas comerciais que tratam o público como mero repetidor de movimentos. "É sobe e desce, vai até o chão, na palma da mão. Entendemos que a música não precisa repetir mil vezes a mesma coisa. Ela sintetiza isso: rápida, fala o que é pra falar e acabou", explica o vocalista. 
Sem Refrão foi lançada no disco Punk Rock Rock de Conquista (2009), quarto trabalho da banda Cama de Jornal. Ela apresenta a ousadia do grupo ao contestar o formato da canção na forma e no conteúdo: uma pílula libertária para um mundo moderno cada vez mais perdido em meio a novas formas de censura: "As pessoas ainda não aprenderam que a vida é diversa. É triste de ver isso acontecer hoje em dia, com tanta informação disponível para todos. ", sentencia Nem Tosco.
Foto: Gilmar Dantas

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Chão de Estrelas - Orestes Barbosa e Sílvio Caldas


 Chão de Estrelas é uma parceria de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa. Ela foi construída a partir de um poema em decassílabos de Orestes que muito relutou em consentir que fosse musicada por Sílvio. A faixa, dentre as quinze que escreveram juntos, é considerada a obra-prima da dupla. 
Chão de Estrelas foi lançada em 1937 pelo próprio Sílvio Caldas, mas só obteria sucesso nacional nas rádios no ano de 1950 em uma segunda gravação feita pelo cantor.  A força lírica da canção foi coroada pelo poeta Manoel Bandeira: "Se se fizesse aqui um concurso (...) para apurar qual o verso mais bonito de nossa língua, talvez eu votasse naquele de Orestes: ‘tu pisavas os astros distraída...' ".
Chão de Estrelas já foi regravada por diversos nomes da música popular brasileira, destaque para o arranjo inusitado feito pelos Mutantes e a poderosa interpretação de Nana Caymmi em meddley com Carinhoso. 

domingo, 10 de setembro de 2017

Semear o Chão - Mário Marauak


Semear o Chão é uma composição de Mário Marauak. O músico conta que ela está entre as primeiras canções que escreveu ainda na adolescência."A música fala da trindade: ação, reação e equilíbrio; sobre cultivar o solo, mas também à si mesmo, criando intimidade com o seu próprio corpo através do questionamento e da reflexão. A ideia foi de inspirar as pessoas a acreditarem nos sonhos delas e trabalharem para isso. Tem também algo do meu Pai que sempre dizia pra que eu vivesse o momento presente com os pés no chão", explica Marauak. 
A ideia de auto-cultivo narrada na canção reflete um pouco da trajetória de Mário: um auto-didata na música. "Eu sonhei, quis muito. Nunca fiz aula, mas sempre pratiquei. Desde pequeno cantava em cima dos discos tentando imitar a voz dos artistas", explica o cantor. Foi o encontro da disciplina de Mário com a de outros músicos da cena reggae soteropolitana que fez surgir, em 2002, a banda Semente da Paz - uma comunidade musical destinada a tocar reggae espiritual. Semear o Chão foi uma das primeiras músicas do repertório do grupo, tendo sido gravada em estúdio no ano de 2004. 
E na perseverança Marauak segue caminhando: depois de lançar dois discos com a Semente da Paz, em Salvador, no ano de 2011 casou-se com a percussionista Ilana Queiroz e mudaram-se para San Diego, na Califórnia. Juntos eles hoje atuam no circuito musical americano com o Bossa Lounge Project. Mário integra também o Raggabond. "Nos primeiros dois anos aqui não foi fácil. Mas graças a Deus a semeadura não para nunca: porque você semeia, colhe, semeia de novo, colhe - e assim vamos", agradece Marauak.

sábado, 9 de setembro de 2017

Refavela - Gilberto Gil

Em 2017 o disco Refavela lançado por Gilberto Gil em 1977 completa 40 anos. O cantor realiza turnê comemorativa com shows em cinco capitais brasileiras. A apresentação conta com direção do seu filho Bem Gil e a participação especial de Moreno Veloso, Céu e Maíra Freitas. Conheça abaixo a história da canção que dá nome ao disco, em depoimento concedido por Gilberto Gil para o seu site oficial:

"Em 77, eu fui participar do Festac, festival de arte e cultura negra, em Lagos, na Nigéria, onde reencontrei uma paisagem sub-urbana do tipo dos conjuntos habitacionais surgidos no Brasil a partir dos anos 50, quando Carlos Lacerda fez em Salvador a Vila Kennedy, tirando muitas pessoas das favelas e colocando-as em locais que, em tese, deveriam recuperar uma dignidade de habitação, mas que, por várias razões, acabaram se transformando em novas favelas.
Para abrigar os 50 mil negros do mundo inteiro que para lá acorreram, tinha sido construída uma espécie de vila olímpica com pequenas casas feitas com material barato e um precário abastecimento de água e luz, que reavivou em mim a imagem física do grande conjunto habitacional pobre. Refavela foi estimulada por este reencontro, de cujas visões nasceu também a própria palavra, embora já houvesse o compromisso conceitual com o re para prefixar o título do novo trabalho, de motivação urbana, em contraposição a Refazenda, o anterior, de inspiração rural.
A esses fatores se somaram outros, locais: a mobilidade, por vezes difícil, outras vezes facilitada, dos negros cariocas na relação morro-asfalto e o movimento da juventude black-Rio, que se instalava propondo novos estilos de participação na questão da negritude no Brasil e no mundo, com mais atividade cultural e absorção de elementos do discurso e da luta negra da América e da África.
A dificuldade com que a história tem-se defrontado para proporcionar o verdadeiro resgate da cultura e da natureza dos negros, exatamente pela manutenção reiterada da sua condição paupérrima; a coisa da 'miséria roupa de cetim', da 'Belíngia' (Bélgica/Índia), esse binômio de disparidades - Refavela é sobre isso. A informação forte da música está nas duas primeiras estrofes; perto delas, o resto é ornamento."

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Me Deixa Legal - Teago Oliveira

Me Deixa Legal é uma canção de Teago Oliveira gravada pela banda Maglore no disco Todas as Bandeiras (2017). O músico conta que a composição surgiu a partir das observações de um mundo movido à informação: "É uma canção antiga que fala dessa vida frenética que levamos: dessa enorme quantidade de informação pra assimilar e da forma talvez plástica com que lidamos com isso em meio a ambientes de embates. Ela me faz lembrar que apesar disso tudo dá pra ficar legal", explica Teago. 
No arranjo da Maglore a canção ganhou levada groovada de baixo/bateria e guitarras/coros de atmosferas distantes para alcançar à reverência de tudo aquilo que nos deixa legal. No caso de Teago:  gente jovem reunida, amigos e Twin Peaks
Na letra, o eu lírico desafia algumas das armadilhas do mundo moderno (mentira/falta de sintonia/ fantasia) para abraçar aquelx (pessoa/planta/música) que lhe provoca bem-estar. Uma poética política que se integra ao indivíduo não pelas bandeiras, mas pela universalidade de seus aspectos comportamentais. "A arte sempre pode ser um instrumento de reflexão, de quebra da realidade, uma forma da gente compreender melhor as coisas. Sem arte a sociedade não avança", reflete Teago. 

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Sair de Madrugada - Victor Badaró

Sair de Madrugada é uma canção de Victor Badaró. O guitarrista conta que ela foi escrita em uma noite do ano de 2007 enquanto voltava do treino da capoeira. "Eu vinha descendo a ladeira da Piedade (Salvador), por volta das 22 horas, quando o refrão pintou de uma vez só", explica Badaró
Sair de Madrugada foi lançada como single em agosto de 2016 e registra a linguagem convidativa e romântica da música reggae feita por Badaró. A caminhada pela ladeira da Piedade foi parar numa beira de Mar em que o eu lírico se revela enamorado pelo sorriso da moça que olha pra Lua.

 O compositor se confessa adepto das caminhadas noturnas como a que é relatada na letra da música. Para Badaró este é um hábito associado a uma benéfica sensação de liberdade. Ele no entanto não desconsidera as mudanças vividas pela cidade de Salvador - principalmente no que tange à violência urbana - desde que a música foi escrita. "Mas eu procuro não ter muito medo não. Procuro ter fé em Deus e ficar de boa porque a gente não tá no controle de nada. A gente pode estar mais inseguro de dia, no meio da avenida sete, por exemplo, do que andando na madrugada", reflete Badaró. 

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Primavera em Mim - Marcelo Perdido

Primavera em Mim é uma música de Marcelo Perdido. O cantor conta que ela retrata um momento de descobertas, vivido durante a sua estadia de um ano na cidade de Lisboa. "Com certeza é a letra mais autobiográfica do disco, trata de uma necessidade pessoal que essa vivência por lá me permitiu, de me renovar e de florescer", explica Marcelo
Primavera em Mim foi lançada no disco Bicho (2017) e ganhou clipe em que o cantor faz um passeio visual pela capital portuguesa. A direção é assinada em parceria pelo cantor e Fernanda Vidal que durante o ano inteiro que estiveram em Portugal registraram belezas, cenários e passagens do tempo para compor a película.
                                                                                        Lisboa
A produção da faixa ficou por conta do nativo Felipe Sambado, nome conhecido da cena portuguesa por promover o encontro entre a música alternativa e tradicional. Da vivência lisboeta Marcelo lembra das semelhanças que colecionou. "Fiquei surpreso do quanto a cidade se parece (e eu a confundo) com o Rio de Janeiro, mesmo estando a quilômetros de distância.Alguns bairros são idênticos ao centro antigo do Rio, o bonde é igual ao de Santa Teresa. Era fácil me esquecer que não estava no Rio por alguns momentos", brinca o cantor.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Pálpebra - Radiola & Zezão Castro


Pálpebra é uma parceria musical do cordelista Zezão Castro com a banda Radiola. Ela surgiu no canto de improviso, um repente acompanhado ao violão, quando da visita do poeta ao estúdio Casa das Máquinas. "Me veio essa história de um pistoleiro que se despede de alguém e tem que pegar a BR para ir executar seu próximo serviço junto a uma mulher. Segue sem saber que dia volta, nem se volta", explica Zezão. 

Da esquerda para a direita: frente: Zezão Castro, Tico Marcos, Fabio Dias e Nancy Viégas; meio: Larriri Vasconcelos e Alan Abreu; fundo: Tadeu Mascarenhas e Germano Estácio.


Com a gravação de Pálpebra, a banda Radiola encerra um jejum de 5 anos sem lançar músicas inéditas. Ela é também a primeira faixa da banda em que o músico Tico Marcos assume os vocais. No arranjo, a diversidade musical característica do grupo aparece à serviço de uma atmosfera densa que confere à canção contornos de uma narrativa cinematográfica. O letrista Zezão celebrou o resultado: "Por serem músicos tarimbados, souberam revestir muito bem o clima: guitarrinha cangaceira, escaleta que simula uma sanfona com melodia arabesca e um cantar martelado, raivoso".

Assim o grupo conferiu música à dramática sina do pistoleiro narrada na letra: "O matador guarda uma relação íntima com uma moça, mas ao mesmo tempo precisa dos seus colares de pérolas.A amante está sempre na cabeça dele como provedora desse desejo, mas também de riqueza. Só que o destino dele é 'correr trecho'", explica Tico Marcos. Pálpebra está entre as músicas finalistas do XV Festival de Música da Educadora. A indicação foi bem recebida pelo grupo, um arranque no próximo disco que já se encontra em processo de gravação sob os cuidados do mago Tadeu Mascarenhas.



* Xilogravura de Antônio Silvino
              

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O Sonho de Uma Noite de Verão - Valson Cardeal



O Sonho de Uma Noite de Verão é uma canção de Valson Cardeal. O guitarrista conta que ela foi escrita em um período em que a timidez se expressava de maneira muito forte em sua personalidade "É a confissão de um cara que se sentia intimidado com a garota que ele queria e não tinha jogo de cintura pra chegar. Ele entende que não pode reclamar disso, pois quem é tímido, para equilibrar, acaba se sentindo atraído por pessoas independentes e de personalidade forte", explica Valson.  

A canção foi gravada no estúdio Jimbo, em Alagoinhas, e lançada em 2015 no primeiro EP da banda Canvas MMX. No arranjo destaque para as inventivas passagens de guitarra e para a carga dramática da interpretação vocal de Valson. "É uma música que tem relação direta com todas as histórias que vivi e vivo até hoje. Embora eu tenha medo do mundo eu vou ao mundo mesmo assim. Aprendi a driblar a timidez, mas ainda tenho resquícios: sigo me investigando", reflete Valson.