segunda-feira, 12 de junho de 2017

Amar é - ZecaCuryDamm

*Texto de Ricardo Cury, escritor, baterista e contador de causos do rock baiano

Era primavera de 2005. Eu e Damm tínhamos gravado um disco de música dos outros pra deixar nos bares. Todas as músicas no cajon, voz e violão. Jeff Buckley, Tears for Fears, Beatles, Sade, Secos e Molhados... Empolgado com a sonoridade, Damm sugeriu que voltássemos pro estúdio, porém com músicas próprias, e gravássemos um disco novo. No processo de composição, ele chegava lá em casa com a melodia e a ideia pra eu encaixar outras palavras. 

- Tô com essa ideia aqui “Se pego uma canção e faço dela a minha vida” – disse ele, entre o sol e o dó no violão. 

- Tiro o pé do chão e faço disso minha ida pro seu coração... 

E num jogo de frases em menos de 10 minutos a ingênua letra estava pronta. 

Era fácil compor com Damm, pois qualquer palavra sugerida, ele dava um jeito de colocar na melodia sem ficar forçado.

A ideia desse disco era gravar só com instrumentos desligados, usando só microfones para a captação, daí usamos as madeiras cajon, violão e baixolão, além de diversos instrumentos percussivos para preencher o ritmo ditado pelas madeiras. 

Na tarde que gravamos essa música, recebemos a visita de Glauber Guimarães, ex-Dead Billies, que, ao ouvi-la sugeriu colocar uma gaita. 

–  Posso levar pra casa e voltar amanhã? 

– Pode. 

Voltou com o arranjo e com a ideia pra um “oh yeah” que fica sendo dito diversas vezes, bem baixinho no fim da música, enquanto vozes da gente e de nossas companheiras vão falando por conta própria o que amar é. 


Comigo já fora da banda, em 2007, Damm conta que foi contatado por alguém da banda Jammil, querendo iniciar uma conversa para produzir a banda. Depois de algumas reuniões onde ele foi perguntado sobre o conceito estético e musical, falaram em um futuro com disco novo, shows e sugeriram que numa suposta regravação dessa música, poderiam convidar o cantor Bruno Gouveia do Biquini Cavadão, amigo deles, para participar dela. 

- Só que de repente eles pararam de atender nossas ligações e pouco tempo depois surge Jammil com uma música toda flower chamada Amar é, com um clip idem... e com o cara do Biquini Cavadão.

Em 2012, a agencia de propaganda do Shopping Barra nos contatou pedindo para usar a música como tema da campanha de Dia dos Namorados daquele ano. 

Quando lançamos o disco, em 2006, também recebemos um convite parecido, porém para a música “Eu e você no jardim”. Torci para que a coisa não se concretizasse e deu certo. Eu botava fé no rock e quando uma música vira jingle ela deixa de ser uma música para se transformar apenas em um... jingle. 

– Se rolar mesmo, nunca mais poderemos toca-la ¬– disse eu. 

Mas agora era 2012, tudo já tinha se dissolvido e algum a mais na conta bancaria é sempre uma conta a mais paga.


                            Feliz Dia dos Namorados!

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